"Quem falha em preparar-se está a preparar-se para falhar. Foi o que fizemos"
O médico infecciologista Jaime Nina afirma que, nesta altura, o confinamento é a única forma de controlar o coronavírus e critica o Governo por não ter tomado mais medidas preventivas.
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Jaime Nina, infecciologista do Hospital Egas Moniz, reconhece que o confinamento até março tem custos sociais e económicos, mas defende que é um forte contributo para diminuir a escalada dos números da Covid-19.
Em declarações à TSF, o médico sublinha, no entanto, que há outras medidas que precisam de ser tomadas.
"O confinamento é a medida de último recurso. Quando tudo falha, é aquilo que pode parar uma epidemia. O objetivo é ter o vírus sob controlo - que, neste momento, não está", repara. "Por muito desagradável que seja, penso que não há, para já, outra medida [suficientemente eficaz]."
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Jaime Nina diz ser muito "crítico" do facto de não terem sido adotadas outras medidas mais cedo. "Portugal teve quatro meses "de férias" - junho, julho, agosto e setembro -, em que podiam ter sido feitas muitas coisas que não foram", condena.
Citando Benjamin Franklin, o infecciologista afirma que "quem falha em preparar-se, está a preparar-se para falhar". "Foi o que fizemos. Podia ter sido feito um reforço dos meios humanos de rastreio de casos, que não está a ser feito - e isso é a base das bases, é o sítio onde se começa para controlar uma epidemia - porque não há gente", critica.
Neste caso, Jaime Nina considera que os alunos dos últimos anos de Medicina e Enfermagem deviam ser envolvidos no esforço.
O infecciologista é também da opinião de que Portugal devia ter seguido o exemplo de outros países.
"Podia e devia ter sido feito - e até agora não foi - o rastreio de [pessoas] vulneráveis. Em Singapura, por exemplo, todas as pessoas que trabalham em lares de terceira idade e todo o pessoal de saúde está a fazer testes dia sim, dia não", comenta. "O vírus não entra pelas janelas a voar, o vírus não vai por baixo das portas, ele não tem patinhas nem asas, o vírus entra dentro das pessoas."
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O médico assegura que Portugal tinha capacidade para fazer "testes de pesquisa de antigénio" com tal frequência. "Em 10 a 15 minutos tem-se o resultado e é muito fácil e muito simples de fazer, inclusive, pode ser feito na saliva. Não é tão fiel como o PCR, é verdade, mas, numa situação pandémica, não se pode estar com preciosismos, é usar as armas que temos", admite.
Jaime Nina alerta, por último, para a situação nos transportes públicos, defendendo que é preciso mudar os sistemas de ventilação.
"Os transportes públicos são um dos cancros da transmissão em Portugal", declara.
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"Os únicos veículos de transportes públicos que têm ventilação anti-infecciosa são os aviões - e não é mérito nosso, é porque a legislação internacional [o dita]. Porque não se põe ventilação anti-infecciosa nos autocarros, nas carruagens de comboio, nas carruagens de metro?", questiona. "Não era difícil. Demora algum tempo, é preciso mão-de-obra, mas, seguramente, tinha um impacto enorme na transmissão", conclui.
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