Quem foi Roberto Leal? Amigos falam do "vulto", do homem "solidário"e dos preconceitos
O cantor português que vivia no Brasil morreu este sábado aos 67 anos, vítima de um cancro.
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Um homem "solidário", um "vulto da comunidade luso-brasileira" e "um dos cantores portugueses mais conhecidos no Brasil". É assim que algumas das pessoas que se cruzaram com Roberto Leal descrevem o cantor português nascido em Vale da Porca, Macedo de Cavaleiros, e radicado no Brasil que morreu este sábado aos 67 anos, vítima de um cancro.
A notícia da morte do cantor foi avançada por José Cesário à TSF. O antigo secretário de Estado das Comunidades diz que o país fica "muito mais pobre e muito mais triste" com o desaparecimento do artista que, na sua visão, "fazia uma grande ligação entre Portugal e Brasil". José Cesário considera que Roberto Leal era mesmo "um vulto muito particular da nossa comunidade, da comunidade luso-brasileira".
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Também o cantor Vitorino cruzou caminhos com Roberto Leal quando, em 2004, gravou para o disco "Roberto Leal e amigos: de Jorge Amado e Pessoa" o tema "Oh rama, oh que linda rama". O cantor recorda Roberto Leal como "uma personagem interessante" e um homem "solidário" e "bem-disposto".
"Era um dos cantores portugueses mais conhecidos no Brasil, coisa difícil, sobretudo depois dos anos 60 em que os cantores portugueses fugazmente passam pelo Brasil, mas não ficam, porque a música brasileira é muito forte e é um bocado impermeável à música portuguesa", adianta Vitorino à TSF.
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Quando Roberto Leal o convidou para gravar com ele, Vitorino aceitou de imediato, mas confessa que essa decisão lhe valeu algumas críticas. "Ele pediu-me para eu gravar com ele essa moda e eu gravei com ele. Houve gente da música portuguesa que me criticou, porque eu gravei com o Roberto Leal, mas para quem canta português e para quem é solidário eu estou lá sempre."
"Havia um preconceito em Portugal em relação a ele, coisa que me irritava profundamente, por isso também decidi gravar com ele", remata.
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Roberto Leal estava internado desde quarta-feira em São Paulo. José Cesário diz que o artista morreu esta madrugada e sublinha que o país "ficou mais pobre" com este desaparecimento.
O artista ficou conhecido por interpretar sucessos como "Arrebita", "Uma Casa Portuguesa" e "Chora Carolina".
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Presidente da República recorda cantor "com amizade"
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, recordou este sábado "com amizade" o cantor português Roberto Leal e sublinhou "o seu papel junto das comunidades portuguesas".
"O Presidente da República recorda Roberto Leal com amizade, lembrando o seu papel junto das comunidades portuguesas, nomeadamente no Brasil, com ligação às suas raízes, durante várias décadas", lê-se numa nota da Presidência da República, enviada à Lusa, em que Marcelo também expressa as suas condolências à família.
"Perda muito profunda"
José Luís Carneiro, secretário de Estado das Comunidades, esteve com Roberto Leal em janeiro, altura em que testemunhou mais uma vez a popularidade do cantor no Brasil e entre a comunidade portuguesa.
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No dia da morte do artista, o governante conta à TSF que era "impressionante a forma como portugueses e brasileiros se dirigiam a ele, querendo fazer fotografias com ele, querendo cumprimentá-lo, querendo acarinhá-lo". José Luís Carneiro acredita que "vivia muito o espírito do coração, da comunidade portuguesa em São Paulo".
"Roberto Leal e a sua perda têm um significado muito profundo para a comunidade portuguesa no Brasil, representava um símbolo entre a música tradicional e popular portuguesa e brasileira", revelou o secretário de Estado, lembrando que é também uma perda para o "aprofundamento de relações das nossas comunidades".
José Luís Carneiro recorda que Roberto Leal tinha "um elemento muito presente que era o facto de terem [a família] partido de condições de vida muito difíceis, de muita pobreza, com uma família grande, com vários irmãos". Nessa altura, partiram para o Brasil e "viveram como os portugueses daquela época muitos preconceitos" e foram "muitas vezes objeto dessas críticas".
"O mérito do trabalho foi desenvolvido e permitiu que se afirmassem e ganhassem um respeito e uma reputação muito positiva", frisou o secretário de Estado.
Bruno Nogueira recorda o sentido de humor
O humorista Bruno Nogueira, que fez o programa "O Último a Sair" na RTP com Roberto Leal, recorda à TSF o sentido de humor e o facto de nunca fugir a um desafio.
Bruno Nogueira fala da "capacidade de não só brincar com a imagem que tinham dele, a religião, não só isso como desafiar-se e aceitar um desafio. Nunca houve um momento em que dissesse que não fazia", recorda.
Nuno Lopes e a recordação de Roberto Leal
O ator português Nuno Lopes recorda a passagem pelo "Último a Sair" e o facto de ter ficado "boquiaberto com a disponibilidade, a alegria de viver, o bom humor e a maneira sábia e simples com que destruía todos os preconceitos sobre si mesmo e sobre os outros, sem nunca deixar de 'ser igual a si próprio' nem de defender com dignidade as coisas em que acreditava".
*com Cristina Lai Men, Judith Menezes e Sousa, Rita Costa e Lusa
Notícia em atualização