Esta terça-feira, às 18h30, o Coliseu do Porto abre o debate à imortalidade: Quem quer viver para sempre? Os avanços científicos e a emulação total do cérebro. Entrevista da TSF com o diretor, Miguel Guedes.
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Se a nossa mente puder ser digitalizada, então a nossa alma é apenas informação? O mind uploading e o caminho para a imortalidade. O que é que temos no horizonte? Como é que surge este debate, Miguel Guedes?
É um debate que surge na ótica transformadora do Coliseu, que o Coliseu tem de ter sempre e tem que apurar cada vez mais esse sentido. Para além de ser uma sala de espetáculos, no coração do Porto, porventura a mais democrática da cidade, no sentido em que alberga todo o tipo de espetáculos e de sentidos...
Mas não é costume o Coliseu debater coisas que relacionamos mais ou com a ficção científica, ou com a ciência, ou com a espiritualidade...
Precisamente. Julgo que o Coliseu pode e deve ser um espaço de conhecimento. Pode ser uma ágora à sua maneira. Tem a obrigação de convocar conhecimento, pensamento crítico e diversas leituras. E assim nos espetáculos, porque é que não há de ser assim no pensamento? E daí que, desde abril, temos tentado que cada mês seja habitado por um tema diferente, em discussão ou em análise, ou até em performação no próprio Coliseu. Foi assim com o tema da Diversidade Voz, onde fizemos um rastreio de voz à comunidade artística, aos professores, à comunidade em geral. E agora em maio, onde temos este debate sobre a imortalidade. A questão da perenidade. Sabemos nós ou queremos nós resistir a nós mesmos? Isto é possível? E então convocamos diversos saberes para para este debate que terá lugar na terça feira, às seis e meia da tarde.
Na nota de apresentação do debate, escrevem: "Durante séculos, o conceito de imortalidade existiu em exclusivo no campo da espiritualidade e da ficção científica, Mas os avanços científicos, nomeadamente o mind uploading ou emulação total do cérebro, caminham para que a mortalidade passe a ser uma realidade não tão distante no horizonte. Quem é que vem debater este tema?
Nós convocámos diversas fés, credos e ciências para este debate. Teremos o Paulo Borges, que é professor de Filosofia de Religião, do pensamento oriental, de meditação ligada à espiritualidade budista, que nos vai trazer um pouco esta ideia da reencarnação. Como é que algumas fés encaram a possibilidade de sermos imortais através da reencarnação e de outros conceitos? Como é evidente, também teremos no campo da fé católica Jorge Teixeira da Cunha, que é teólogo, sacerdote da Diocese do Porto, doutorado em Teologia Moral e que nos vai trazer a fé católica, a fé cristã. Como é que nós, do ponto de vista não da reencarnação, mas da ressurreição, podemos inclusivamente viver para sempre? Isto é, a imortalidade habita-nos todos os dias nas mais pequenas coisas e, obviamente, nas grandes questões existenciais. Mas vão para além da fé. Hoje, há quem defenda - e não estamos no campo da ficção científica, mas já no campo da neurociência, no campo da filosofia, sobretudo a filosofia da mente - já nos diz que daqui a umas décadas é possível que, através de um interface consigamos ser imortais pelo que se chama emulação total do cérebro, a transposição de todo o nosso cérebro, de todas as nossas experiências, todas as nossas sensações, toda a nossa história, tudo o que somos para um computador que possa precisamente mapear o cérebro e transmiti-lo para um outro ser humano ou semi-humano. Isto já não é propriamente um domínio da ficção científica. Teremos então Ana Sofia Carvalho, professora catedrática do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, com uma enorme investigação em inteligência artificial, e da Ética de Bioética e teremos ainda o Steven Gouveia, que é doutorado em Filosofia, uma pessoa hiperconhecedora no campo da filosofia da mente e que nos vai trazer mais este lado da emulação, da possibilidade de replicar, de biohacking, de transumanismo. E à volta destas quatro pessoas, com a moderação da Minês Castanheira, procuraremos encontrar algumas respostas e outras muitas dúvidas sobre quem quer viver para sempre, e se podemos efetivamente viver para sempre, de uma forma que até agora desconhecemos.
E qual é o tema do próximo mês?
Teremos no Coliseu o medo, a ansiedade, as perturbações, o ócio, o prazer, o lazer, o burnout, o medo do palco. E também ligado a um conceito mais concreto, mas que existe sempre no Coliseu, porque nós trabalhamos estes temas em binómios do mais alargado para o mais concreto, do mais metafórico para o mais tangível; daí que seja, neste caso de maio, fé/upload o tema que nos leva a este debate. Em junho será medo/chão? Procuraremos perceber que chão é este que nos pode ligar ou desligar do medo? E se o chão está mesmo cá em cima, está mesmo na terra ou está nas artes, inclusivamente nas nuvens?
E como é que tem sido a experiência de ser diretor desse chão chamado Coliseu, até agora?
É um chão gigantesco, lindíssimo, muito assoalhado, de 1941. Tem sido uma experiência maravilhosa, muito, muito enriquecedora, enternecedora e transformadora.