"Queremos que o estigma acabe." Comunidade migrante é a mais afetada pelo VIH em Portugal
Os entraves linguísticos e o desconhecimento da doença afastam a comunidade migrante do tratamento
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A comunidade migrante é a mais afetada pelo vírus do Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH). Em Portugal, a prevalência de casos do vírus VIH em comunidades migrantes deve-se, principalmente, ao desconhecimento da doença e à falta de informação. Em declarações à TSF no Dia Mundial do Refugiado, Catarina Esteves, enfermeira especializada na área VIH no hospital de Cascais, considera que este aumento dos casos estará relacionado com a vulnerabilidade destas pessoas em "compreender a nossa língua", não conseguindo, por isso, tratar da infeção.
"A perceção das fragilidades dos migrantes em relação à infeção pelo vírus da SIDA envolve múltiplos fatores sociais, económicos, culturais e, acima de tudo, saúde. Muitos migrantes têm dificuldades em compreender a nossa língua e nós temos dificuldades nos serviços, porque não temos ferramentas e soluções para comunicar de forma fluida. Muitos são indocumentados e evitam o acesso aos cuidados de saúde por medo das represálias. Depois, há uma grande barreira no deslocamento dos próprios direitos, os direitos da saúde das pessoas e os serviços disponíveis no país de destino. Temos o fator socioeconómico, em que as pessoas têm condições económicas precárias, e, por último, os fatores culturais, o estigma, a discriminação e as diferentes culturas podem influenciar os comportamentos sexuais", explica à TSF Catarina Esteves.
Catarina juntou-se ao Grupo Ativistas em Tratamento (GAT), que promove a saúde, direitos, participação, não discriminação, e defende o acesso fácil, equitativo e adaptado a serviços eficazes de prevenção, rastreio e tratamento do VIH e outras Infeções Sexualmente Transmissíveis (IST), como hepatites virais e tuberculose. A responsável deixa algumas estratégias para tentar acabar como o desconhecimento do vírus nas comunidades migrantes, tais como a criação de "campanhas informativas sobre o VIH direcionadas especificamente" para estas populações.
"Estamos a falar de políticas inclusivas de saúde em que haja implementação de políticas que vão garantir os serviços de saúde para todos os migrantes, independentemente do seu estatuto legal. Queremos programas de educação e consciencialização com campanhas informativas sobre o VIH direcionadas especificamente às comunidades migrantes, adaptadas culturalmente e linguisticamente. Outra estratégia é o serviço de tradução e mediação cultural, precisamos que haja disponibilidade de tradutores e mediadores culturais nos serviços de saúde. Queremos que o estigma acabe e precisamos de apoio psicossocial em que haja oferta de suporte psicológico e serviços sociais, saúde mental e saúde física para os migrantes para poderem abordar os traumas de migração, o facto de estarem longe da família e não terem rede de apoio", acrescenta.
