"Questão prioritária." Associação de Administradores Hospitalares exige que plano para SNS inclua internamentos sociais
Xavier Barreto está preocupado e receia que o investimento do Plano de Recuperação e Resiliência esteja atrasado
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O presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, Xavier Barreto, exige ao Governo que coloque no plano para o Serviço Nacional de Saúde (SNS) o problema dos internamentos sociais, uma vez que 11% das pessoas que estão internadas já não deviam estar, e, em declarações à TSF, revelou também que quer que o Executivo explique como está a ser aplicado o dinheiro do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) que previa um aumento significativo das camas nos cuidados continuados.
Xavier Barreto está preocupado e receia que o investimento do PRR esteja atrasado.
"O PRR tinha, de facto, um investimento importante. O alargamento da rede nacional de cuidados continuados era um alargamento de cinco mil camas, portanto era um aumento de quase 50% da rede, mas neste momento não temos informação sobre a execução desse investimento. Sabemos todos porque tem sido amplamente discutido o atraso que existe na execução de muitas dimensões de muitos investimentos do PRR e preocupa-nos que, eventualmente, este investimento possa estar atrasado. É uma pergunta a que obviamente o Governo tem de responder com a maior brevidade. Bem sei que o Governo tomou posse há pouco tempo e ainda está a inteirar-se dos vários dossiês, dos vários temas, mas não podemos deixar de sinalizar este tema como uma questão prioritária", afirmou Xavier Barreto.
Em declarações no Fórum TSF, o presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares exige também que o plano que está a ser preparado para o SNS e que o Governo prometeu apresentar até 2 de junho dê prioridade aos internamentos sociais.
"No tal plano de emergência que será apresentado em breve esta tem que ser uma questão prioritária. Os hospitais não podem continuar a ser a válvula de escape de um problema que é muito mais social do que de saúde, porque obviamente isso tem consequências para os doentes, para o funcionamento dos hospitais e até consequências financeiras. E, portanto, é muito importante que o Governo tenha uma noção clara do problema com que está confrontado", sublinhou o presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares.
Este problema dos internamentos sociais tem vindo a agravar-se no país e Xavier Barreto nota a falta de diálogo entre a Saúde e a Segurança Social.
"Não é por acaso que o Ministério da Saúde muito recentemente anunciou que estaria nos planos deste Governo que esta rede, nomeadamente a rede de cuidados continuados, passasse apenas e só para a gestão da Saúde, abandonando esta tutela conjunta com a Segurança Social porque também aí tem havido um problema de articulação. Estas pontes são praticamente inexistentes. É também um desafio que se coloca às Unidades Locais de Saúde. Temos dito que as Unidades Locais de Saúde têm que ser muito mais do que a integração entre os cuidados primários e cuidados hospitalares. As Unidades Locais de Saúde podem e devem integrar todo este tipo de respostas e é isso que esperamos que aconteça nos próximos meses, nos próximos anos. Este movimento de integração de cuidados", alertou.
Já o presidente da Associação Nacional de Cuidados Continuados (ANCC), José António Bourdain, pede mais vagas nos lares e um reforço dos serviços de apoio domiciliário.
"Temos cerca de 37% de casos sociais a ocupar as camas dos cuidados continuados, ou seja, se nos hospitais são 11, nos cuidados continuados são 37%. Isto só se resolve com uma boa gestão e aumentando vagas em apoio domiciliário e lares de idosos. Já reunimos com o Governo na semana passada, com ambas as secretárias de Estado da Saúde, entregámos um documento que é um diagnóstico dos problemas da rede de cuidados continuados e algumas propostas de resolução desses problemas. Falámos precisamente nesta questão da necessidade de criar mais vagas em apoio domiciliário e lares de idosos, ficámos de recolher uma série de dados dos nossos associados e vou só dar-lhe um dado da minha própria instituição aqui em Sintra: temos 59 doentes internados, 27 foram abandonados pelas famílias. É quase 50% e isto é uma coisa que também tem de ser discutida na sociedade portuguesa", explicou à TSF José António Bourdain.
Um estudo revelado esta quarta-feira de manhã confirmou que não param de aumentar as camas ocupadas com doentes que continuam nos hospitais apesar de já terem tido alta. O barómetro dos internamentos sociais estima que estes internamentos já custaram ao Estado este ano mais de 68 milhões de euros.
