Bloco de Esquerda coloca o racismo na ordem do dia no plenário desta segunda-feira. Todos os partidos reiteram importância do combate contra o racismo, mas há direita criticam-se as manifestações em várias cidades do país.
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Ângelo Semedo, Carlos Reis, Diogo Borges, Elson Sanches, José Carlos, Manuel Pereira, Nuno Rodrigues. Estes são nomes que o Bloco de Esquerda fez questão de enunciar na tribuna da Assembleia da República como exemplos de "jovens negros mortos pela polícia em circunstâncias que ainda estão por apurar".
Saudando "as ruas e praças que se encheram com milhares de pessoas que se levantaram contra o racismo, exigindo justiça e igualdade", a deputada Beatriz Gomes Dias trouxe o tema para o debate lembrando que o parlamento tem "uma responsabilidade acrescida neste combate". "O silêncio e a inação não nos servem, até quando vai durar a cumplicidade com estas desigualdades?", questionou a parlamentar.
Os partidos alinham todos na bitola antirracista, mas do lado direito do hemiciclo chegam críticas às manifestações de sábado em vários locais do país. Desde logo o PSD, na voz de Catarina Rocha Ferreira, criticou "a aglomeração totalmente irresponsável e imprudente em termos de saúde pública" e a postura de alguns participantes com "mensagens que incitam ao ódio".
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E são precisamente duas as mensagens em particular que CDS e Chega fazem questão de sublinhar. André Ventura, do Chega, lembra cartazes que diziam "polícia bom é polícia morto" e "o diabo veste farda" para pedir ao Bloco de Esquerda que se demarque destas afirmações. Já o líder parlamentar centrista, com uma fotografia na mão, fala num "discurso de ódio e de morte contra a polícia que é inaceitável naquela ou em qualquer manifestação".
O Bloco viu na deputada socialista Isabel Moreira uma primeira defesa, realçando que "quem não está verdadeiramente empenhado na luta antirracista" faz destes episódios "um spin" e "ignora aquilo que é a substância": o combate e a condenação do racismo.
Antes, Isabel Moreira já tinha sublinhado a importância dos protestos de sábado "em que as pessoas se uniram de forma pacífica para exigirem políticas de igualdade", condenando os atos isolados e "absolutamente condenáveis" como os dos cartazes citados à direita.
Sem fugir ao tema, Beatriz Gomes Dias responde depois que "é evidente que o Bloco de Esquerda se demarca de afirmações que têm aquele teor". "No entanto, estas afirmações não traduzem de forma nenhuma o que foi o espírito daquela manifestação, o que é o espírito, a vontade, o compromisso e a mobilização daquelas pessoas", nota a deputada bloquista lembrando todos os outros cartazes levantados pelos manifestantes nas ruas.
O Bloco contou ainda com o apoio de Verdes, PCP e PAN na condenação ao racismo sem quaisquer reparos à manifestação deste sábado, lembrando até a deputada Mariana Silva do PEV que "há causas na vida que justificam que se corram certos riscos".
Do lado da Iniciativa Liberal, João Cotrim de Figueiredo começou por sublinhar que ambos os partido estão alinhados numa "frontal oposição ao racismo e ao discurso de ódio que lhe está subjacente", mas que há uma "incoerência" do Bloco de Esquerda por terem um discurso discriminatório, mas contra investidores privados ou bolsistas. Cotrim de Figueiredo diz mesmo que "é arrepiantemente próximo da discriminação e do ódio" que ambos os partidos querem condenar.
Às críticas relacionadas com a saúde pública, Beatriz Gomes Dias vincou que na manifestação foram distribuídas máscaras e desinfetantes e que "o número de pessoas que se mobilizaram por esta causa foi muito superior àquela que os organizadores pensavam e previam". "Os organizadores tiveram todos os cuidados para garantir as regras estipuladas pela Direção Geral de Saúde", nota a deputada.