Raquel quer ser diplomata mas enquanto estuda vai fazendo curriculum com inquéritos
A Misericórdia de Lisboa está a formar jovens acompanhados pela instituição para trabalharem como entrevistadores nos estudos internos e externos sobre os vários serviços que a Santa Casa oferece.
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Para Raquel Sousa, 23 anos, a formação para trabalhar como entrevistadora em estudos de opinião surgiu numa boa altura. Está sempre atenta a emprego que possa conciliar com os estudos. Está a tirar Relações Internacionais na Universidade Autónoma e, apesar de receber uma bolsa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), é sempre importante ter algum dinheiro extra.
A jovem faz caixa num supermercado e já trabalhou a fazer pizas. "Gosto de trabalhar, dá-me mais rotina. Apesar de recebermos da Santa Casa e de também termos a bolsa, no meu caso a bolsa não cobre tudo porque já trabalhei", afirma.
Raquel vive num dos apartamentos de autonomia da SCML, um espaço que prepara para o futuro jovens que já estiveram à guarda do estado. "Eu vivia com os meus pais, depois o meu pai foi para o Brasil, eu fiquei só com a minha mãe, ela não tinha muitas condições. Dava para o básico mas o que me incentivou a ir para os apartamentos foi o facto de poder fazer faculdade porque temos direito a uma bolsa", explica.
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Até surgir a hipótese de viver num dos apartamentos de autonomia da SCML, Raquel nunca tinha pensado seguir estudos na universidade. Agora, gostava de trabalhar em diplomacia, "nas Nações Unidas".
A formação que começou para vir a trabalhar em estudos e inquéritos não está relacionada com a área de formação mas pode ajudar nas contas do mês. Aliás, foi também com esse objetivo que o projeto foi criado.
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A direção de Estudos, Planeamento e Controlo de Gestão da Misericórdia de Lisboa desenvolve vários estudos de mercado e de opinião para avaliar serviços da instituição e a sua notoriedade. Em geral, recorre a uma empresa externa mas, depois de um projeto-piloto com jovens universitários, decidiram olhar para dentro.
"Porque é que nós não convidamos os jovens que vivem nas nossas casas de acolhimento e na nossa instituição a fazer estes estudos connosco?", argumenta Francisco Pessoa e Costa.
E assim foi. Cerca de 40 jovens responderam ao desafio, 18 começaram a formação em setembro.
O Diretor de Estudos, Planeamento e Controlo de Gestão da SCML explica que o objetivo é permitir que os jovens tenham contacto com o mercado de trabalho e que consigam um complemento monetário.
"Os estudos são pagos e aquilo que desde o início assumimos foi que aquilo que pagávamos às empresas externas para fazer os estudos, era o mesmo valor que nós vamos pagar a estes jovens para fazer os estudos", afirma Pessoa e Costa.
Para estes jovens, acabou por ser uma maneira de arranjar uma alternativa aos biscates e aos empregos de verão que desapareceram devido à pandemia.
Francisco Pessoa e Costa acredita que a formação e o trabalho nos inquéritos pode trazer outras mais-valias para os jovens da Santa Casa, para além da componente financeira.
"A nossa expectativa é também influenciar alguns destes jovens a apaixonarem-se também por esta temática dos estudos de opinião e, quem sabe, poderem ter um desenvolvimento de uma carreira nestas áreas", conta.
Quanto a isso, Raquel Sousa ainda não sabe dizer mas acredita que a experiência em estudos de opinião possa dar uma ajuda no curriculum. "É uma maneira de ver as coisas, fica melhor ter uma coisa a mais no curriculum, não ser sempre a mesma coisa e mostrar mais de ambivalência", detalha.
Depois da formação e com a primeira experiência prática no terreno, Francisco Pessoa e Costa acredita que os jovens "serão perfeitamente capazes de fazer o trabalho de campo que os inquéritos obrigam: serem bons entrevistadores, conseguirem fazer uma entrevista sem influenciar o resultado da entrevista".
Se tudo correr bem, o Diretor de Estudos, Planeamento e Controlo de Gestão da Misericórdia de Lisboa quer dar seguimento ao projeto através de entrevistas online enquanto a pandemia não abrandar, porque a bolsa de entrevistadores é para "manter e, se nós conseguirmos, é para alargar".
A Misericórdia de Lisboa promove estudos internos e externos sobre os vários serviços que a instituição oferece e também sobre a notoriedade dos jogos santa casa.