Rastreio está a falhar, doentes com cancro colorretal chegam "em situações catastróficas"
"Morrem cerca de 11 doentes com cancro colorretal por dia, em Portugal". Dados da Sociedade Portuguesa de Oncologia mostram que o cancro colorretal é a doença mais comum na Europa e o terceiro cancro mais comum no mundo.
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A pandemia representa um retrocesso, numa doença onde o diagnóstico precoce é fundamental. No dia Mundial da Luta Contra o cancro a TSF conversou com Carlos Sottomayor, oncologista, um dos coordenadores da Unidade de Cancro Colorretal do Hospital CUF Porto, que deixou um alerta.
"Morrem cerca de 11 doentes com cancro colorretal por dia em Portugal, a incidência e mortalidade são elevadas, até porque abrange homens e mulheres".
Carlos Sottomayor explica que a partir dos 50 anos todos deviam realizar um rastreio para detetar problemas o mais precocemente possível, mas o sistema está a falhar.
"Não está a funcionar a partir dos 50 anos com a pesquisa de sangue oculto nas fezes, e com colonoscopias. Continuam a aparecer casos muito avançados que poderiam ser evitados se a adesão ao rasteio fosse maior".
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Carlos Sottomairo afirma que a pandemia trouxe um retrocesso ainda maior no diagnóstico."Tem havido doentes que têm chegado em situações catastróficas, em que mesmo tendo sintomas foram adiando a ida ao médico, foram adiando a realização de exames, se calhar com medo de contrair covid-19 e os próprios centros de saúde também estão muito bloqueados com o atendimento telefónico aos doentes que estão no domicilio infetados e também acabam por ter menos disponibilidade e acessibilidade aos doentes".
Carlos Sottomayor diz que este atraso pode ser fatal.
"Quando o doente já não aguenta mais e tem tantos sintomas que precisa recorrer ao médico muitas vezes esta doença passou a fase da curabilidade e pode não ser curável cirurgicamente nem com tratamentos".
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Os sintomas manifestam-se numa fase mais avançada da doença, mas há sinais de alerta. "Tudo o que seja alterações dos hábitos intestinais, a pessoa começar a ter mais prisão de ventre ou mais diarreias, ou alternância das duas queixas, perdas de sangue nas fezes ou anemia persistente detetada por análises".
O médico oncologista deixa um alerta: é seguro ir ao médico, o cancro também é uma pandemia.
"Não devem ter medo de ir ao médico, recorrer os hospitais, porque estão preparados para receber os doentes. Tentar manter a vigilância e os rastreios habituais deste tipo de doenças, que também são uma epidemia, não transmissível de pessoa a pessoa por gotícula, mas é uma pandemia que está sempre a acontecer".
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A Sociedade Portuguesa de Oncologia calcula que, na Europa, 1 em cada 20 homens e 1 em cada 35 mulheres irá desenvolver cancro colorretal em algum momento da sua vida. A maioria dos doentes tem mais de 60 anos.
Esta quinta-feira assinala-se o Dia Mundial de luta contra o cancro.