Rastreios na luta contra AVC: "O importante é que o colesterol não fique nas veias e entupa"
A Unidade Local de Saúde do Algarve anda a fazer rastreios à população e a avisar para os riscos de ter um AVC
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"Quando é que comeu pela última vez, senhor Custódio?", questiona a enfermeira. O paciente tem 80 anos e na sua pronúncia, que revela os muitos anos que viveu emigrado na Argentina, responde que tomou o pequeno-almoço às 08h00.
A jovem enfermeira é uma dos muitos profissionais de saúde que se encontram na rua, junto ao mercado de Olhão. Por estes dias, para assinalar o Dia Nacional do Doente com Acidente Vascular Cerebral (AVC), a Unidade Local de Saúde (ULS) do Algarve organizou uma série de iniciativas que incluem rastreios à população.
É um dia de sol e, por esse motivo, as bancas estão montadas debaixo de vários toldos. A fila começa a formar-se. Primeiro, os doentes passam pela zona onde revelam as suas doenças crónicas e a medicação que tomam. A seguir, fazem vários testes: medir a tensão, o colesterol, o peso, a diabetes e todos os fatores de risco que podem provocar um AVC.
"Custou muito?", questiona a enfermeira, após picar o dedo para retirar uma gota de sangue ao senhor Custodio. "Não me saíram as tripas”, responde o velhote a rir. A enfermeira explica-lhe que os níveis do colesterol total estão bons. “O que é importante é que não fique nas veias e não entupa”, responde o paciente. "É isso mesmo”, responde a enfermeira a rir.
Noutra banca, a dona Cidália, vendedora no mercado, mede a tensão arterial. "Está 158 – 82", revela o enfermeiro. "Ai! Está sempre 11-12, que jeitos hoje?", diz alarmada no seu sotaque algarvio. "Isto é da idade", lamenta ainda.
A diretora da unidade de AVC de Faro considera estes rastreios importantes. “Algumas pessoas não vão aos cuidados de saúde primários, não identificam estes fatores [de risco], mas aqui conseguimos juntá-los todos, fazer uma quantificação e ver qual a probabilidade de ter um AVC ou um enfarte cardíaco”, afirma a médica Ana Verónica Varela.
Após fazer todos os testes, Helena, também vendedora no mercado de Olhão, chegou ao fim da linha e vai falar com o médico que ali se encontra. Apesar de ter tensão e colesterol altos e ser diabética, tenta convencer o médico de que faz uma alimentação saudável. "Filho, ouve o que a Lena te diz porque eu estou dentro destas coisas”, começa. Assegura que as alfaces e tomates têm muitos químicos. "Mais vale comer feijão, grão, comidas que enchem a barriguinha. Eu não como carne", garante.
O médico Ricardo Almeida insiste que é preciso fazer outra alimentação mais equilibrada, porque já não há medicação que a valha. "Temos de começar já a ter estes cuidados, para mais tarde não ter complicações graves como é o AVC, de que estamos hoje aqui a falar”, aconselha. Mas a doente não fica convencida e argumenta: "Só como legumes, os chineses dizem para a gente comer legumes."
“Dona Helena, temos de corrigir algumas coisas, comer só isso não é uma alimentação saudável”, aconselha com paciência o médico. Helena saiu dali com avisos, mas garantindo que alface é que não a fazem comer.