"Reconquistar o direito a viver." Médicos e especialistas em saúde pedem fim das restrições
Médicos e especialistas da área da saúde propõem novas abordagens de combate à pandemia e defendem que as medidas extraordinárias de confinamento "já demonstraram não ter impacto no número de novos casos".
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Médicos, professores catedráticos de saúde e a bastonária dos farmacêuticos entendem que não se justificam medidas extraordinárias de confinamento e querem "reconquistar o direito a viver".
Numa carta enviada à TSF, começam por argumentar a sua posição pela evolução crescente da incidência de testes positivos, que nos últimos 14 dias, foi de "254,8/100.000, mas a verdadeira incidência da Covid-19 é desconhecida".
Fundamentando os argumentos tendo como base dados que dizem respeito aos últimos 14 dias, os signatários da carta questionam também "a aclamada letalidade da variante indiana, por atingir os mais jovens e saudáveis, sem compreenderem que, à medida que a cobertura vacinal imuniza os mais idosos, o vírus, felizmente, só pode circular entre os mais jovens". Consideram ainda que o risco de colapso do sistema de saúde é "falacioso".
Comparando com as estatísticas do último ano, o grupo de médicos e especialistas da área da saúde sustentam-se em duas conclusões. A primeira aponta para uma fase endémica da evolução da doença, já que não se deve falar em pandemia.
"A humanidade passará a conviver, em situação endémica, com este novo vírus, tal como convive com muitos outros. Haverá, sempre, a possibilidade de ocorrerem surtos", admitem.
A segunda conclusão reclama um sistema de monitorização de camas hospitalares, em tempo real, sem o qual, poderá haver consequências desastrosas para os doentes não-Covid, em termos de morbilidade e mortalidade.
"Apenas o desconhecimento sobre o que se passa realmente no terreno pode levar a adiar novamente a necessidade de instalar um sistema de monitorização em tempo real, informatizado e centralizado, das camas hospitalares, fator que, durante o último ano, levou a que se procedesse a um encerramento da prestação de cuidados de saúde a doentes não Covid-19, o qual está a ter, e continuará a ter no futuro, consequências desastrosas em termos de morbilidade e mortalidade", afirmam.
O grupo de médicos e especialistas insiste também na alteração da matriz de risco, "porque o risco de morrer por uma doença que não a Covid-19, está, esse sim, a aumentar em Portugal. Além disso, a vacinação não pode ser ignorada como uma arma eficaz e protetora da transmissão e da doença grave".
Defendem, por isso, uma estratégia eficiente, "evitando a utilização das erradas medidas de confinamento geral". Essa estratégia deverá passar pela aceleração e simplificação do processo de vacinação, "envolvendo-se agentes da sociedade civil no processo (como, por exemplo, as farmácias), de modo a aumentar rapidamente a cobertura vacinal". Os médicos e especialistas propõem o aperfeiçoamento da vigilância epidemiológica que, do seu ponto de vista, "tem sido um insucesso em Portugal", bem como o fim "das medidas avulsas de fim de semana e outras do mesmo tipo, que já demonstraram não ter impacto no número de novos casos".
Por último, apelam ao Governo e às autoridades de saúde para que ponderem as opiniões fundamentadas dos cientistas e dos profissionais de saúde que apresentam propostas de estratégias e abordagens diferentes das que estão a ser seguidas, para que a tomada de decisões permita "reconquistar o direito a viver".
"Os signatários apelam às autoridades de saúde e aos agentes da governação para que, antes de tomarem decisões com enorme potencial deletério, ponderem as opiniões cientificamente fundamentadas dos cientistas e profissionais de saúde que, não negando a importância da Covid-19, propõem estratégias para a sua abordagem diferentes das que têm sido seguidas. É tempo de reconquistarmos o direito a viver", finalizam.
"Apesar de tudo, a doença está controlada"
Em declarações à TSF, um dos subscritores do texto, o médico e patologista clínico Germano de Sousa entende que a situação está controlada e dá como exemplo o facto de estarem a ser feitos cada vez menos testes à Covid-19, comparando com janeiro e fevereiro, quando se faziam cerca de "10.000 testes por dia".
"De repente, os testes foram baixando e agora há dias em que chegamos aos 4.000/5.000 testes", adianta. "Isto é um sintoma de que, apesar de tudo, a doença está a ser controlada", sublinha, acrescentando que "a procura é menor, o que significa que o número de casos, o número de pessoas que são seguidas e que têm suspeitas e que a saúde pública entende que devem fazer testes é bem menor".
TSF\audio\2021\07\noticias\16\germano_de_sousa_2_menos_testes_menos_doenca
"O que significa, talvez, que estas conclusões que temos tirado não têm a gravidade que justifique o confinamento", admite.
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