Redução do uso dos antibióticos na agricultura e pecuária é "uma das grandes lutas globais"
O especialista do FAO Jorge Fernandes garante à TSF: "A salvar alguém, continuamos a ter os antibióticos mais eficazes para os seres humanos."
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As plantas e os animais também adoecem e precisam de ser tratados, acabando por desenvolver resistência aos tratamentos. O problema é que essa resistência aos medicamentos pode ser depois transmitida às pessoas, seja pelo contacto, seja por inalação, mas sobretudo pela alimentação, quando alguém ingere essas plantas e esses animais.
O especialista do Fundo das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) Jorge Fernandes explicou à TSF que esta preocupação levou já boa parte do mundo a proibir o uso dos chamados promotores de crescimento na alimentação do gado: "Em Portugal é proibido. Em todos os países da União Europeia é proibido. Dos últimos dados oficiais, sabe-se que a utilização dos promotores de crescimento é feita em mais ou menos 47 países. É uma das grandes lutas globais."
Por outro lado, Jorge Fernandes refutou a ideia de que "há certos setores que usam muitos antibióticos: na produção de aves, na produção de suínos". Na realidade, o uso de medicação na pecuária tem vindo a ser reduzido: "Se virmos os últimos relatórios oficiais da União Europeia, se ajustarmos o uso à biomassa que se produz, se tivermos em conta, por exemplo, o peso dos animais que é produzido, nós atualmente usamos muitos mais antibióticos em humanos do que em animais."
Aliás, os medicamentos mais eficazes ficam para as pessoas, sublinhou também à TSF o especialista da FAO: "O que se tenta cada vez mais fazer é reduzir o uso, reduzir a necessidade de uso e, quando for estritamente necessário usar, utilizar antibióticos que não são absolutamente vitais para os seres humanos." E ressalvou ainda: "Isto é discutível se o ser humano deve estar no topo da pirâmide ou ter o direito de preferência, entre aspas, mas eu acho que a nível global continua a ser essa a preocupação, que as pessoas têm prioridade e, portanto, a salvar alguém, continuamos a ter os antibióticos mais eficazes para os seres humanos."
Um dos obstáculos no caminho para se alcançar uma agricultura e pecuária menos intensivas é o facto de acima de 95% das escolhas do consumidor, numa ida ao supermercado, serem "exclusivamente determinadas" pelo preço, acredita Jorge Fernandes. "Nós compramos o mais barato. Claro que quando nos perguntam, dizemos 'não, eu preocupo-me com a origem, com os rótulos e com a produção'", reiterou.
Também há ainda uma grande parte da população mundial para quem comer carne é um luxo, tal como a preocupação com a resistência aos antibióticos. Simplesmente porque raramente os têm disponíveis.