Reduzir comprimidos e controlar a doença. Hospital de Braga implementa tratamento pioneiro para doentes com Parkinson
Tratamento inovador de perfusão subcutânea contínua com Duodopa melhora sintomas em doentes em estado avançado
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É possível reduzir o número de comprimidos e controlar a doença de Parkinson. Exemplo disso é o tratamento pioneiro que está a ser levado a cabo na Unidade de Saúde Local de Braga (ULS de Braga) desde abril, o que faz do Hospital de Braga o único no país a implementar este método com doentes em estado avançado de Parkinson.
“É uma forma de administração diferente de um medicamento que já temos disponível há muitos anos e que é um dos fármacos mais eficazes para tratar esta doença, a Duodopa”, que combina foslevodopa e foscarbidopa, explica a médica neurologista Margarida Rodrigues.
A grande inovação passa pelo método de administração por perfusão subcutânea contínua durante 24 horas, isto porque é instalado um dispositivo, semelhante a um monitor contínuo de glicose, para “estabilizar os níveis de medicamento no sangue”.
“Numa fase inicial os doentes têm uma excelente resposta à medicação, mas passado alguns anos, a resposta deixa de ser tão linear”, algo caraterístico da evolução da doença. Deste modo, passa a ser difícil controlar os sintomas durante todo o dia. “O que acontece é que, às vezes, o doente está bem e, de repente, perde o efeito da medicação e fica bloqueado ou com discinésias (movimentos involuntários)”. “Há doentes a tomar medicamentos de duas em duas horas, e mesmo assim, os sintomas são difíceis de controlar”, alerta.
Ora, apesar de considerar cedo para falar em melhorias, a especialista adianta que tem sido possível controlar os sintomas, ao longo do dia, como também impedir flutuações motoras.
Conceição Pereira, tem 61 anos, descobriu que tinha Parkinson há nove anos. Os primeiros sinais foram tremores nas mãos. Aos poucos, começou a precisar de ajuda para praticamente todas as tarefas do dia-a-dia como higiene pessoal.
“Por vezes parecia inválida. Precisava de ajuda para se levantar, não andava, era preciso ajuda para tudo”, revela o marido e cuidador João Gomes.
Um mês depois de iniciar este tratamento, Conceição diz ter recuperado “autonomia”, mas acima de tudo a alegria de viver. “Só de olhar para a mesa do pequeno almoço e ver tantos comprimidos ficava maldisposta. Agora, já consigo sorrir”, afirma. A famalicense chegou a tomar 20 comprimidos por dia. Nos períodos da noite reduziram os “períodos off” e de maior rigidez dos músculos.
Nas consultas, de dois em dois dias, podem ser ajustadas as doses ou trocado o dispositivo, sendo que em casa o paciente conta com a ajuda de uma equipa de enfermagem que acaba por dar formação quer ao doente quer ao cuidador, a título de exemplo, como limpar e retirar o ´cateter`. Esta semana o Hospital de Braga vai alargar este tratamento a um segundo doente.
