Regantes do Sotavento Algarvio responsabilizam municípios por graves perdas de água. Autarcas descartam
O presidente da Associação dos Beneficiários do Plano de Rega do Sotavento do Algarve considera que o Estado é cúmplice por permitir que se desperdice tanta água
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A Deco considera que o país não tem feito o suficiente para enfrentar o problema grave das perdas de água na rede de abastecimento, com condutas com 20 ou 40 anos que nunca sofreram qualquer alteração.
O presidente da Associação dos Beneficiários do Plano de Rega do Sotavento do Algarve, José Macário Correia, responsabiliza os autarcas e considera que o Estado é cúmplice por permitir que se desperdice tanta água. Por isso, no Fórum TSF, pede mais controlo para castigar os municípios que não cumprem.
"Isto é uma irresponsabilidade grave e temos autarcas em Portugal que fazem isto porque onde a água se perde, não se vê. Apenas os municípios têm mecanismos de controlo e de medição para ver se é debaixo das calçadas, debaixo dos pavimentos e é uma coisa que não está à superfície a correr. Por isso, o juízo dos cidadãos não é imediato. Todavia é bom de ter em conta que a água que se fatura mensalmente a cada cidadão, a cada consumidor, poderia ser 30% mais barata se não fossem estas perdas. É preciso que os eleitores – e no próximo ano há eleições municipais - tenham consciência disto e exijam um outro comportamento aos seus autarcas. E o Estado é complacente porque se esconde no manto protetor da autonomia do poder local, que é uma conversa de circunstância do ponto de vista político, mas o Estado, através da APA, da ERSAR e da própria Águas de Portugal tem mecanismos para controlar os municípios que se portam mal”, acusa Macário Correia.
A presidente da Câmara Municipal de Tavira, Ana Paula Martins, faz parte da comunidade intermunicipal do Algarve e garante que os autarcas estão conscientes do problema que exige grandes investimentos. Com a ajuda do Plano de Recuperação e Resiliência, as obras estão a avançar no Algarve, no entanto a autarca admite que há quem não encare essas obras como essenciais.
"Reconheço que não será o tipo de obra prioritária que os autarcas tendem a fazer. Porquê? Porque é uma obra que fica enterrada, não tem visibilidade. Até porque os mandatos de quatro anos são pequenos, devíamos ter mandatos maiores, e não conseguem fazer se calhar todas as obras que pensam e imaginam. Acabam por, se calhar, dar prioridade a outras obras que têm mais visibilidade. Não quer dizer que não se preocupem, mas o facto de serem obras que exigem também muito em termos de orçamento - abrir vala, colocar as condutas, voltar a fechar vala. É um investimento muito grande, é pesado para as autarquias. O facto de ser tão incomodativo acaba por levar os autarcas a pensarem duas vezes se devemos avançar", justificou à TSF Ana Paula Martins.
No caso do Alentejo, o presidente da Câmara Munipal de Amodôvar, António Bota, que também é presidente da comunidade intermunicipal da região, defende que os autarcas não têm culpa e explica que o investimento é muito maior no Alentejo do que em Lisboa, por exemplo.
"Um investimento feito num bairro em Lisboa atravessa uma rua, colocam num prédio com 500 pessoas com um custo de 20 mil euros e fica toda a gente com água. Aqui em Almodôvar, em Castro e em Aljustrel precisamos de dois milhões para abastecer 150 pessoas e de facto isto não é sustentável, mas essas 150 pessoas merecem tanta água com as 500 que estão em Lisboa ou com uma que vive no Porto, no meio de um bairro onde teve a sorte de morar num prédio onde qualquer tubagem resolve o problema. Enquanto ADC e a CCDR não permitirem aos autarcas mais anos para a recuperação de custo, não existir uma melhor coesão identificando cada região por si, cada localidade por si e não num global, os autarcas podem fazer muito pouco porque os orçamentos são limitados", acrescentou António Bota.
