Registadas 227 mortes acima da média em dias de calor extremo. Médicos alertam para importância do "conforto térmico" das casas
Entre 30 de junho e 3 de julho, quatro dias de calor intenso, registaram-se 227 mortes acima da média, num total de 1330. No entanto, se for tido em conta o período a partir de 28 de junho, quando o alerta de tempo quente começou a estar em vigência, o número aumenta para 284
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Entre 30 de junho e 3 de julho, quatro dias de calor intenso, registaram-se em Portugal 227 mortes acima da média, num total de 1330. A maioria dos óbitos são de pessoas com mais de 65 anos, avança esta segunda-feira o Correio da Manhã, que cita dados do Portal da Vigilância da Mortalidade, da Direção-Geral da Saúde. Em declarações à TSF, o presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, confirma que o calor é um fator que pode explicar o aumento do número de mortes. Bernardo Gomes sublinha ainda que é importante a população estar mais bem preparada para fenómenos extremos, como ondas de calor, a começar pelas próprias casas.
“Existem habitações com maior ou menor capacidade para dar este conforto térmico, sobretudo quando sujeitas a vários dias de calor”, começa por dizer à TSF Bernardo Gomes.
O presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública argumenta que “o calor senta-se em cima de situações preexistentes, ou seja, de vulnerabilidade, seja pela idade ou pelas doenças crónicas”. “O que acontece é que para chegarmos a um óbito, existe uma sequência de eventos e o calor, de facto, acaba por ser o fator de desempate entre aquilo que era suposto acontecer e aquilo que acontece neste tipo de fenómenos”, assinala, recomendando que as pessoas mantenham as janelas abertas durante a noite para arejar as casas.
A 30 de junho, morreram 362 pessoas, no primeiro dia de julho houve 315 mortes, 341 no dia 2 e 312 no dia 3. Dos 1330 óbitos, 1201 foram de pessoas com mais de 65 anos. Nestes dias foram registadas temperaturas superiores a 40 graus em várias regiões do continente.
Naqueles quatro dias foram registadas 227 mortes em excesso. No entanto, se for tido em conta o período a partir de 28 de junho, quando o alerta de tempo quente começou a estar em vigência, o número aumenta para 284.
Num esclarecimento enviado à TSF, os 284 óbitos em excesso verificaram-se entre 28 de junho e os primeiros dias de julho e mais de 70% do excesso de mortalidade ocorreu no grupo etário com 85 ou mais anos.
A DGS indica também que não se verificou excesso de mortalidade abaixo dos 70 anos.
Na atualização desta segunda-feira, o índice Ícaro (que estima o impacto das temperaturas do ar na mortalidade) indica que não se “prevê um impacto significativo da temperatura na mortalidade” para os próximos três dias, “com exceção da região do Alentejo, sendo por isso possível que ocorra uma ligeira revisão em alta dos valores de excesso de mortalidade”.
A DGS, no entanto, referiu que o impacto deste episódio de tempo quente na mortalidade em excesso foi semelhante ao observado nos últimos dois anos.
Em 2024, entre 22 de julho e 4 de agosto, foram registadas 715 mortes em excesso, correspondendo a um excesso relativo de mais 19% face ao esperado.
No ano anterior, de 21 a 27 de agosto de 2023, contabilizaram-se 384 óbitos em excesso, um excesso relativo de mais 20% face ao esperado.
Antevendo a onda de calor que viria a registar-se, a Direção-Geral de Saúde, de acordo com as informações mais atualizadas do IPMA e dos restantes parceiros, emitiu a 25 de junho de 2025, nas suas diferentes plataformas, várias recomendações à população de proteção contra o calor.
A DGS refere que irá manter uma monitorização regular da situação, atualizando a informação sempre que necessário.
Quase um terço das 90 estações meteorológicas de Portugal continental ultrapassaram ou igualaram, no último fim de semana de junho, os seus anteriores máximos históricos de temperatura máxima para o mês, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
A partir do dia 27 de junho verificou-se uma onda de calor que se prolongou até aos primeiros dias de julho. Na quarta-feira, cerca de 59% das estavam em onda de calor.
Em junho, Portugal continental registou duas ondas de calor, tendo a primeira sido assinalada, entre 15 e 20 de junho, em 12 estações.
O dia 29 foi o mais quente do mês com um valor médio de temperatura máxima de 38,5°C (desvio em relação à média mensal de +11,8°C) e um valor médio de temperatura mínima de 28,7°C (desvio em relação à média mensal de +8,4°C).
Notícia atualizada às 13h06