Religiões unidas à mesa: o que têm em comum pão, azeite e vinho com cristãos, judeus e árabes?
Uma iniciativa que pretende mostrar que os três alimentos da dieta mediterrânica - pão, azeite e vinho - são símbolos das três religiões
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O que têm em comum o pão, azeite e vinho com o cristianismo, judaísmo e islamismo? Mais do que se se poderá pensar. A Santa Casa da Misericórdia de Tavira, no Algarve, lançou mãos a um projeto para mostrar que esta trilogia da dieta mediterrânica que une as pessoas à volta da mesa - pão, azeite e vinho - também são "símbolos poderosos de fé, identidade e comunhão nas três religiões".
Na exposição "Pão, Azeite e Vinho: Rituais de Fé", que será inaugurada esta quarta-feira à noite, dia 14 de agosto, serão mostradas peças que ilustram a evolução e o significado destes alimentos ao longo dos séculos, percorrendo várias épocas e evidenciando a forma como cada religião utiliza esses elementos nas suas práticas e rituais. Na sua montagem, contou com a ajuda de pessoas das três comunidades religiosas que cederam alguns objetos. Poderá apreciar-se, por exemplo, uma custódia cristã, uma Menorah (candelabro judaico), um exemplar do Corão, um tapete de oração, mas também objetos agrícolas antigos que se usavam para fazer cada um dos alimentos.
"A trilogia mediterrânica - pão, azeite e vinho - tem sido preservada e transmitida através das gerações, influenciando profundamente a agricultura, as técnicas de produção e as práticas culinárias. Desde a prensagem das azeitonas até à fermentação do vinho e ao fabrico do pão, cada processo representa uma expressão rica de cultura, fé e tradição", lembra a organização.
"Esses três pilares da dieta mediterrânica não nutrem apenas o corpo, mas também a alma, unindo pessoas em torno de mesas e altares ao longo dos tempos. Tornaram-se símbolos poderosos de fé, identidade e comunhão nas três religiões", explica a organização em comunicado.
Alexandra Rufino, a responsável pelo gabinete de património da Santa Casa da Misericórdia de Tavira, lembra que o pão, por exemplo, sempre esteve ligado a um ritual de fé. "Todos nos lembramos que as senhoras antigas, quando põem o pão no forno, fazem rezas", conta. "Estes alimentos também têm esta parte muito espiritual", continua.
Miguel Ângelo, investigador que ajudou a montar esta exposição, lembra que no ritual da Páscoa judaica "o vinho é sinal de libertação, recorda-se Deus que redime, que salva e que liberta", explica. E se no islamismo o vinho foi banido, o pão e azeite continuam como sinais de fé.
Na inauguração desta mostra na igreja da Misericórdia, em Tavira, haverá convívio num espaço ao ar livre onde estarão representantes das três religiões. "Qualquer uma das religiões são de paz, não de guerra", salienta Miguel Ângelo. Apesar dos conflitos no mundo, há ainda quem acredite que através das religiões também se podem estabelecer relações de paz, à volta de uma mesa. "O problema é [o que] os homens que se dizem de Deus ou da coisa comum fazem sob a capa da religião, e que nada tem a ver com ela", lamenta.