Reportagem TSF "Jovens sofrem cada vez mais AVC" vence prémio de jornalismo. Ouça aqui
Este prémio é atribuído pela Portugal AVC - União de Sobreviventes, Familiares e Amigos.
Corpo do artigo
A reportagem da TSF "Jovens sofrem cada vez mais AVC" recebeu o Prémio de Jornalismo O Acidente Vascular Cerebral, na categoria Rádio. O trabalho da jornalista Cristina Lai Men destaca como o AVC atinge cada vez mais jovens e como uma melhor prevenção pode evitar cerca de metade dos casos.
Este prémio é atribuído pela Portugal AVC - União de Sobreviventes, Familiares e Amigos e os vencedores foram conhecidos esta terça-feira de manhã numa cerimónia no Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão, em vésperas do Dia Nacional do Doente com AVC, que se assinala no próximo domingo.
Leia aqui também a reportagem:
Jovens sofrem cada vez mais AVC. "Metade poderia ser evitada ou adiada" com maior prevenção
O acidente vascular cerebral está a atingir cada vez mais pessoas com menos de 55 anos. Uma tendência que surpreendeu o presidente da Sociedade Portuguesa do AVC. Todos os anos, há cerca de 25 mil novos casos em Portugal.
Professor no Instituto Superior Técnico, Alfredo Ferreira tinha 49 anos quando a vida lhe trocou as voltas. Levava uma "vida muito saudável, fazia exercício regularmente, não fumava, só bebia socialmente. Só falhava no excesso de trabalho, dedicava-se a 200%", com muitas horas acumuladas e que podiam entrar madrugada dentro. Além do excesso de trabalho, Alfredo tinha também hipertensão, mas apesar dos conselhos do médico do trabalho, e porque não se sentia mal, a consulta foi sempre adiada, até que em Fevereiro de 2020, aconteceu o pior.
Sozinho num barco, que tinha acabado de zarpar do porto de Lisboa, Alfredo percebeu que não tinha força para subir as velas. "O dedo não respondia", recorda, e percebeu que alguma coisa estava mal, "quando a lata (de óleo) me cai da mão". Ao ligar para um amigo, a fala estava entaramelada, mas conseguiu voltar à marina, antes de perder os sentidos. "Tive sorte", conta hoje, três anos depois. "Se já estivesse a caminho de Oeiras, teria sido tarde demais."
À espera de Alfredo, estava uma equipa do INEM e os colegas da marina. Foi socorrido de imediato e levado para o Hospital São Francisco Xavier, onde esteve inconsciente durante três dias. Tinha sofrido um acidente vascular cerebral (AVC). Quando acordou, não conseguia falar nem andar, mas a reabilitação começou sem demoras. Internado no Centro de Reabilitação de Alcoitão, Alfredo recuperou quase toda a mobilidade e a fala, embora sofra ainda de afasia. Os resultados da terapia da fala permitiram-lhe recuperar o suficiente, para voltar a dar aulas no Instituto Superior Técnico, mas nota um cansaço muito maior. Também guarda sequelas "em todo o lado direito. Não consigo mexer a mão, o braço direito tem mobilidade limitada e a perna também". Consegue andar sem auxílio de uma bengala, mas "a metade da velocidade normal".
Ainda assim, sente-se um homem novo e tenta espalhar a mensagem para que todos estejam atentos aos 3 F's: a mudança na Face, a perda de Força e a Fala a ser afectada podem ser sinais de um AVC. "Estejam atentos, não descurem os pequenos sinais, porque a saúde pode desaparecer de um dia para o outro", salienta Alfredo, que nunca mais voltou a trabalhar até de madrugada, mudou a alimentação e evitar enervar-se com "coisas que não têm importância nenhuma". A recuperação foi lenta, "é preciso muita paciência", mas "cada vez que se tem uma vitória, nasce um pouco de mim", afirma com gratidão.
Como Alfredo, há cada vez mais jovens a sofrerem um AVC. O presidente da Sociedade Portuguesa do AVC, Vítor Tedim Cruz, fala numa "tendência crescente de que não estávamos à espera", que pode ser explicada por factores de risco não controlados. Hipertensão, níveis elevados de colesterol, obesidade, tabagismo surgem mais cedo, mas as pessoas com menos de 55 anos "descuram as actividades e saúde preventiva", porque estão mais concentradas na carreira e na organização da família.
Vítor Tedim Cruz realça que metade da população com 40 anos já tem, em média, quatro factores de risco por controlar. Contudo, para todos os factores de risco controláveis, existe um tratamento eficaz. Por isso, conclui o presidente da Sociedade Portuguesa do AVC, "cerca de metade dos AVC's que acontecem todos os anos, poderiam ser evitados ou adiados, desde que as pessoas aderissem a todas as medidas de prevenção possíveis". Daí, a recomendação do neurologista: "tomem em mão, a missão de perguntar ao médico de família" se têm os factores controlados. A prevenção tem de resultar de uma parceria entre o médico e o doente. "O papel activo do cidadão é essencial", destaca Vítor Tedim Cruz.
Em Portugal, há todos os anos cerca de 25 mil novos doentes com AVC, que continua a ser a principal causa de morte no nosso país.
Este domingo, assinala-se o Dia Mundial do AVC.
A autora não escreve segundo as normas do novo acordo ortográfico
