Pequena habitação térrea onde o escritor nasceu, em São Martinho de Anta, Sabrosa, conserva mobiliário e objetos da época em que ali se refugiava em busca de inspiração
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O Espaço Miguel Torga, em São Martinho de Anta, no concelho duriense de Sabrosa, evoca esta sexta-feira o 30.º aniversário do falecimento do poeta com várias iniciativas. É um espaço cultural que preserva e divulga a memória e a obra do escritor, que está aberto desde 2016. Para complementar a oferta aos visitantes, há três anos que é possível entrar na casa onde Miguel Torga nasceu, em 1907, e viveu até ao início da adolescência. E era para lá que voltava, frequentemente, em busca de descanso e inspiração.
Originalmente foi “uma casa humilde de agricultores”. Depois de uma remodelação na década de 1960, promovida pela esposa do escritor, Andrée Crabbé Rocha, ficou com o aspeto que, praticamente, tem hoje. “Passou a ser quase uma casa de férias onde vinham passar alguns dias no Natal, na Páscoa e no verão”, destaca o diretor do Espaço Miguel Torga, João Luís Sequeira.
Do Espaço, onde está patente uma vasta exposição sobre a vida e obra do poeta, à casa onde nasceu, são menos de 200 metros. É o percurso que curiosos e investigadores fazem a pé.
A visita começa pelo jardim. João Luís Sequeira diz que “as árvores e a parte ajardinada têm muito a ver com Torga, porque foi ele que plantou algumas destas espécies”. Depois entra-se na “casa térrea, simples, mas muito interessante e cheia de memórias”, que “diz muito do que era Miguel Torga”.
No hall de entrada, que “no essencial está como o poeta o deixou”, é possível ver um conjunto de armas, algumas de caça, que Torga “terá adquirido em antiquários e que têm um caráter meramente decorativo”, de acordo com João Luís Sequeira. O mesmo acontece com algumas peças de olaria de Bisalhães, que há cinco anos tem o estatuto de Património Mundial da Unesco. “Miguel Torga escreveu também sobre este trabalho árduo dos oleiros” daquela aldeia do concelho de Vila Real.
A cozinha foi adaptada a um núcleo expositivo adaptado à vida do escritor, com documentos originais relativos ao seu nascimento e à sua vida, bem como uma tábua cronológica que dá conta do seu percurso biográfico e bibliográfico.
A sala é o “coração da casa” e “ainda preserva a sua autenticidade”. Mantém algum mobiliário e objetos, a balança do pai, a roca da mãe, livros, louças, o cadeirão onde se sentava a escrever à lareira e peças antigas compradas em antiquários.
Um antigo armário de arrumos foi transformado num expositor de primeiras edições de obras de Miguel Torga. Está numa antecâmara dos três quartos, adaptados a núcleos museológicos.
Segundo João Luís Sequeira, “aproximam o visitante da obra e vida do escritor”, através de manuscritos, fotografias e primeiras edições, entre outros objetos. Num deles é possível abrir algumas gavetas e ouvir sons da ruralidade, como o riacho ou o sino da escola primária que Torga frequentou. São sons integrados no projeto “Paisagem Sonora de São Martinho de Anta”, que é feito em colaboração com o paisagista sonoro Luís Antero.
Uma das três exposições faz alusão ao território, outra à mulher e à filha de Miguel Torga, e outra à universalidade da obra do escritor. “Tem obras traduzidas para várias línguas. Estamos perante um escritor local, mas também do mundo.”
Para assinalar os 30 anos da morte do poeta, o Espaço Miguel Torga e o Município de Sabrosa prepararam uma homenagem. A partir das 17h00, há uma romagem à campa do escritor no cemitério de São Martinho de Anta. Segue-se a abertura da exposição “Tamanha Vastidão - Miguel Torga 1950, Portugal 2025” de Duarte Belo e o concerto “O Fado da Cítara Portuguesa” por Pedro Caldeira Cabral.
No sábado, às 18h00, começa o espetáculo "O Universal é o Local Sem Paredes" pela Companhia Luso-Belga "Ensemble Torga".
