Reportagem TSF. Vinha velha de Mirandela produz vinho que custa entre 600 e 8000 euros cada garrafa
A 2.ª edição do “Segredo 6” foi distinguida, em fevereiro, como o 3.º melhor tinto nacional. Agora, acaba de ser lançada a 3.ª edição limitada da colheita com assinatura do enólogo Paulo Nunes. Resultado de um projeto que tem como sócios António Boal, da Costa Boal Family Estates, e Costinha, antigo jogador de futebol
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Trata-se de um vinho de parcela de vinha velha, conhecida como a vinha do professor, numa área de 4,5 hectares, sem armação, em solo xistoso, localizada em Chelas, uma aldeia do concelho de Mirandela, com cerca de 50 habitantes.
A terceira edição do "Segredo 6", referente ao ano 2021, acaba de ser lançada. O vinho é produzido “a partir das castas Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Amarela, Alicante e Bouschet, que esteve, durante 16 meses, em estágio em barricas novas de carvalho francês e mais algum tempo em garrafas, dando-lhe “uma grande variedade aromática, mais floral, típico da fruta, é um vinho da região de Trás-os-Montes que tem mais acidez, frescura e que permite uma longevidade muito maior aos vinhos. É o que nós temos descoberto, já desde 2011, e é nisso em que assenta o projeto de comprar pequenas parcelas de vinhas velhas, estudá-las e engarrafar estes néctares que são produzidos nestes vinhos”, adianta o produtor de vinhos, António Boal, da empresa que já é detentora de mais de 70 hectares de vinha, no Alentejo, no Douro e em Trás-os-Montes, onde já produz cerca de 400 mil garrafas/ano.
O segredo parece estar nas condições sui generis da vinha velha. “Na própria vinha temos dois tipos diferentes de solo: um xistoso e um filão de quartzo, o que permite dar características únicas ao vinho, que nos permite vindimar, colher e não precisar de qualquer tipo de correção enológica, ou seja, o segredo é mesmo não estragar o que de melhor a natureza nos oferece”, acrescenta.
Paulo Nunes, já duas vezes distinguido como o melhor enólogo português, explica que a qualidade advém de uma vinha “plantada numa condição extrema no Planalto de Mirandela, uma vinha velha, resiliente, que atinge temperaturas no verão muito elevadas, um inverno muito rigoroso e com plantas com uma baixíssima capacidade de produção. Ou seja, toda a concentração que sentimos é uma concentração natural de uma vinha que está colocada numa condição extrema, em que provavelmente poucas culturas conseguiriam sobreviver e é evidente que isso marca de todo em absoluto o vinho que nós temos dentro deste copo”, refere o enólogo.
E o “ministro”, como era conhecido Costinha nas lides futebolísticas, diz ter sido mais “um remate certeiro” na sua vida. No entanto, “ter apenas um vinho e só com o rótulo numa prateleira com o meu nome, não era uma situação que via com interesse”, confessa. “Agora, vir aqui à terra, perceber aquilo que a terra necessita, o que a vinha necessita, a forma como nós temos de tratar e interagir também com as pessoas que tratam a terra, porque muitos homens são muito importantes, acaba por ter muito mais prazer”, sublinha Costinha, que não tem dúvidas de que estamos perante um vinho diferenciador. “As condições da terra são muito boas.”
Esta terceira colheita só tem garrafas de litro e meio, cinco litros e quinze litros. “Sempre foi o nosso objetivo fazer grandes formatos porque dá uma capacidade de guarda muito maior e uma capacidade de evolução muito melhor”, diz António Boal.
Confrontado com o facto de poder ser um produto com um valor muito elevado, o produtor discorda. “A mão de obra está difícil e escassa. E há que saber valorizar. Para saber valorizar, nós temos que aumentar o preço e temos todas as condições para produzir esses vinhos, porque estamos num mosaico que nos permite ter uma diversidade de castas para fazer este tipo de vinho”, conta.
Ainda a nova colheita do "Segredo 6" não tinha sido lançada e já tinham vendido 10 das 25 garrafas mais caras desta produção – de 15 litros – a oito mil euros cada. Entre os compradores constam futebolistas, empresários, médicos portugueses e outros membros do clube restrito que os dois amigos criaram há dois meses. O “Clube Gold” já conta com perto de 300 sócios provenientes de todo o país.
Resta dizer que a inclusão do número 6 também tem uma explicação. Era o número utilizado por Costinha no FC Porto e na seleção portuguesa de futebol e aquele que, segundo o próprio, o tem acompanhado nos seus maiores triunfos. Além disso, o 6 também é considerado um número sagrado: simboliza união, confiança e segurança. Valores que, desde 1857, acompanham a família Costa Boal.
