"Responsabilidade é de quem decide." Administradores hospitalares criticam declarações da ministra
Ana Paula Martins considerou, no Parlamento, "fracas" as lideranças dos conselhos de administrações hospitalares. Xavier Barreto respondeu à ministra na TSF
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Xavier Barreto, presidente da associação dos administradores hospitalares, não acompanha as críticas da ministra da Saúde, que considerou "fracas" as lideranças dos conselhos de administrações hospitalares e lembrou os administradores que têm sido colocados a gerir hospitais, sem qualquer formação e experiência em saúde.
"Todos os administradores hospitalares estão completamente disponíveis para assumir as nossas responsabilidades, logo que nos seja dada autonomia para gerir. Até que isso aconteça, a responsabilidade é de quem, de facto, decide e quem decide é a tutela. Não posso acompanhar estas declarações, não me parece que a senhora ministra quisesse imputar nenhuma responsabilidade específica, acredito que quisesse apelar a uma melhoria das nossas lideranças, eu também a acompanho nisso. Nós temos sido insistentes na ideia de que não podemos nomear pessoas com perfil político e sem formação específica para a liderança de hospitais. Infelizmente, nos últimos anos, isso aconteceu. Nós continuamos a ter pessoas sem mínimo de experiência e sem o mínimo trajeto a serem nomeadas para conselhos de administração de hospitais", explica à TSF Xavier Barreto.
Já sobre as auditorias que vão ser feitas aos conselhos de administração, Xavier Barreto lembra que avaliar administradores, baseados em objetivos que eles não têm possibilidade de cumprir, não faz qualquer sentido.
"Não sei exatamente o que é isso da autoria aos conselhos de administração. Se a ideia é fazer contratos de gestão com os conselhos de administração, fixar objetivos para esses conselhos de administração, dar-lhes autonomia e condições para os poder atingir e depois avaliá-los, estamos completamente de acordo. Andamos a falar nisso há muitos anos, mas o Governo nunca o fez. O Governo nunca deu autonomia aos hospitais para poderem, de facto, gerir os seus hospitais e os seus recursos humanos. E, portanto, avaliar o conselho de administração por objetivos que estão, à partida, incapacitados de poder atingir, ou porque estão subfinanciados, ou porque não têm ferramentas de gestão, ou por múltiplas razões, eu diria que é um contrassenso", considera.
Na audição no Parlamento, a ministra da Saúde adiantou que não compreende porque é que alguns conselhos de administração dos hospitais deixam arrastar certas situações.
"Porque é que eu tenho hospitais - não vou dizer qual - que, em janeiro, já tinha todos os médicos pediatras a entregarem o papel das 150 horas e 250 horas? Não aconteceu nada? Não se fez nada? Achou-se normal que isso acontecesse e esteve-se, até agora, à espera que fechasse urgência de pediatria?", questionou Ana Paula Martins. Xavier Barreto não quis comentar e voltou a lembrar que as administrações não têm muita margem de manobra.
"Eu não vou comentar nenhum caso específico, não conheço o caso em concreto, portanto não vou comentar. Os casos têm muitos contornos, têm muitos detalhes e, portanto, não vou estar a fazer a leviandade de estar a comentar um caso pela rama. Acho que é perigoso fazer esse tipo de comentário neste momento. O que posso dizer e repetir é que os conselhos de administração e as lideranças dos serviços, porque são eles que, de facto, têm uma maior capacidade de agir sobre a captação e retenção de pessoas, agem com as ferramentas que têm", acrescenta.
