Revisão do cálculo da taxa de esforço é "insuficiente" para aumentar acesso ao crédito à habitação
Em declarações à TSF, Natália Nunes defende que o Banco de Portugal (BdP) devia estar mais preocupado com aqueles que "já têm crédito à habitação" e enfrentam "muitas dificuldades" em pagar um valor "que quase duplicou".
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Reformular o cálculo da taxa de esforço por si só é "manifestamente insuficiente" para aumentar o acesso ao crédito à habitação, afirmou esta segunda-feira, em declarações à TSF, Natália Nunes do Gabinete de Apoio ao Sobre-endividado da Deco.
A vice-governadora do BdP, Clara Raposo, admitiu este sábado que o banco central vai rever o cálculo da taxa de esforço, permitindo, assim, que mais famílias possam aceder ao crédito à habitação.
Natália Nunes explica, contudo, que uma eventual mudança só se aplica aos novos empréstimos e que esse é um dos grandes problemas da medida, em particular para os mais os jovens, que têm menos capacidades para avançar com a entrada para a compra de uma casa.
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Para Natália Nunes, a alteração anunciada, ainda que possa ter "algum impacto", é "manifestamente insuficiente".
"É necessário ter aqui uma visão mais alargada, nomeadamente permitindo que eventualmente os jovens possam contratar até 100% do valor da compra do imóvel", sublinha.
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O Gabinete de Apoio ao Sobre-endividado da Deco defende que as preocupações do BdP deviam estar "mais voltadas para a questão de quem já tem crédito à habitação", uma vez que atualmente enfrentam "muitas dificuldades" em suportá-lo.
"Aquilo que nós continuamos a ver é as instituições de crédito a colocarem inúmeros obstáculos à renegociação. Por outro lado, as medidas que também foram criadas, nomeadamente, a questão da bonificação, é manifestamente insuficiente para prestar ajuda aos consumidores que veem a sua prestação quase que duplicar nestes últimos tempos", destaca.
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A Deco aconselha ainda prudência na alteração ao cálculo da taxa de esforço. A associação de defesa do consumidor admite que existe o risco de se esconder o sobre-endividamento das famílias.
"A Euribor está em níveis muito elevados e sabemos que para o cálculo daquela taxa de esforço contribui também um valor que é acrescentado ao valor da taxa de juro, que são os 3% de que se tem falado. Ora, se já estamos numa altura em que a taxa de juro é tão elevada, acrescentar aqueles 3% acaba por levar a que muitas famílias não tenham taxa de esforço que lhes permitam ter acesso ao crédito", esclarece.