Há menos exames aos pés dos diabéticos, mas amputações podem ter aumentado por outra razão

Entre janeiro e setembro menos 137 mil portugueses com diabetes fizeram um exame aos pés. Nos primeiros nove meses de 2020 contaram-se 400 mil exames, o número mais baixo dos últimos seis anos. Os dados são do portal da transparência do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

O presidente da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal, José Manuel Boavida, recorda que a diabetes é a maior causa de amputações e que a grande maioria estas são preveníveis se "identificarmos as pessoas em maior risco e se as educarmos para as prevenir".

"A diabetes provoca uma diminuição da sensibilidade e se isso levar ao surgimento de feridas existe normalmente uma diminuição da circulação do sangue que leva a uma cicatrização atrasada das feridas, as chamadas úlceras no pé, que podem levar à amputação", detalha.

A quebra nos exames aos pés dos diabéticos é um "mau sinal", nomeadamente porque "não podem ser substituídos por consultas online ou por telefone", com efeitos que só se irão ver, provavelmente, ver mais tarde.

José Manuel Boavida relata que já teve relatos de um aumento do número de amputações através de administrações hospitalares, mas o problema pode não estar na falta de exame aos pés dos diabéticos: "Pensamos que essas amputações são mais derivadas da diminuição da circulação e portanto de situações em que é preciso a intervenção da cirurgia vascular que teve algum atraso na resposta".

Sobre a diminuição dos exames aos pés, a Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal está convencida que "muitos dos diabéticos ao estarem confinados não andaram sobre os pés, tendo mais atenção consigo e podendo ter, de alguma forma, neutralizado a falta de observação com um maior cuidado de si próprios".

José Manuel Boavida recorda que nos últimos 15 anos Portugal reduziu para menos de metade as amputações anuais e que as consultas aos pés dos doentes deram uma enorme ajuda.

* Atualizada às 09h02