Risco de morte chega ao dobro. Doentes mentais graves fora das prioridades de vacinação
Estudo europeu conclui que a maioria dos países - incluindo Portugal - exclui doentes mentais graves da vacinação prioritária contra a Covid-19.
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Um estudo publicado na revista científica Lancet Psychiatry crítica os vários países europeus que excluem quem tem doenças mentais graves do grupo prioritário de vacinação contra a Covid-19.
O artigo assinado por 18 investigadores revela que as pessoas com doença mental grave - esquizofrenia, doença bipolar ou depressão muito grave - têm maior ou igual risco de internamento e morte por Covid que pessoas com outras doenças crónicas como as doenças cardíaca ou renal grave, incluídas, em Portugal, na fase 1 de vacinação.
Pelo contrário, as doenças mentais graves nem na fase 2 do plano nacional de vacinação estão incluídas, numa desvalorização comum a 16 dos 20 países europeus analisados.
Marisa Casanova Dias, vice-presidente da Organização Europeia de Médicos Especialistas de Psiquiatria e coautora do estudo, refere à TSF que "é preciso corrigir urgentemente esta desigualdade. É incompreensível que tantos países, incluindo Portugal, continuem a ignorar a evidência científica e a não priorizar as pessoas com doença mental nas estratégias de vacinação".
Apenas a Alemanha, Holanda, Reino Unido e Dinamarca escapam àquilo que é comum na Europa, incluindo estes doentes nos grupos prioritários.
Os autores do artigo sublinham que "um plano de vacinação eficaz é fundamental para poupar vidas, pelo que vacinar os grupos de maior risco deverá ser uma prioridade de qualquer país".
"A evidência científica mostra que o risco de infeção é 65% maior para aqueles com doença mental e a probabilidade de morte duas a três vezes superior do que na população em geral", diz Marisa Casanova Dias.
O psiquiatra e investigador do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Miguel Bajouco - que colaborou com o estudo - também acrescenta "que efetivamente muitos dos planos de vacinação abrangem pessoas institucionalizadas, entre as quais se incluem pessoas com doença mental grave", mas "fruto do processo de desinstitucionalização psiquiátrica muitas dessas pessoas vivem hoje na comunidade, pelo não são consideradas como um grupo prioritário na maioria dos planos de vacinação".
As razões anteriores levam uma série de associações europeias de profissionais de saúde, de doentes e de famílias a defenderem que os estados europeus atuem para reduzir o impacto da Covid entre quem tem doenças mentais graves.
Os autores do estudo chegam mesmo a falar em discriminação, com Marisa Casanova Dias a sublinhar a evidência científica e a adiantar que "sabemos que há um estigma associado à doença mental, sendo quase um esquecimento não dar importância a estes doentes".
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