"Salários são tão baixos que a proporção de trabalhadores pobres é muito grande"
INE considera estar em risco de pobreza quem recebe o equivalente a 501 euros mensais ou menos.
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A taxa de risco de pobreza baixou para 17,2% em 2018, mas ainda há 2,2 milhões de pessoas que estão em risco de pobreza ou exclusão social, segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
No entanto, para Luís Capucha, sociólogo do ISCTE, um dos dados mais dramáticos do estudo é o risco que correm as pessoas que têm emprego: "Os salários são tão baixos que a proporção de trabalhadores pobres é muito grande." Tal cenário acaba por empurrar os menores pertencentes a esses agregados familiares para a pobreza. O sociólogo diz mesmo que "crianças das famílias que vivem em situações dessas são muito atingidas no que se refere a diversas carências, como a dieta alimentar, a participação no mercado de trabalho e a participação social, tal como outros fatores essenciais para uma vida digna num país como Portugal".
"É preciso fazer bastante mais e é possível hoje fazer bastante mais, nomeadamente em termos de remuneração do trabalho, porque grande parte dessas crianças vivem em agregados domésticos em que alguém trabalha", acrescenta o sociólogo do ISCTE, ouvido pela TSF.
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De acordo com o Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, realizado em 2019 sobre rendimentos do ano anterior, 17,2% das pessoas estavam em risco de pobreza em 2018, menos 0,1 ponto percentual (p.p.) face a 2017 e menos 3,2 p.p. do que em 2003.
A taxa de risco de pobreza correspondia, em 2018, à proporção de habitantes com rendimentos monetários líquidos inferiores a 6.014 euros anuais, o equivalente a 501 euros mensais, mais 34 euros relativamente a 2017.
Há ainda mais de dois milhões de pessoas em risco de pobreza, apesar de a situação ter vindo a melhorar desde o 25 de Abril. Para o sociólogo Luís Capucha, a realidade poderia ser diferente e os números poderiam ser minorados se as políticas de luta contra a pobreza funcionassem.
A redução do risco de pobreza abrangeu em particular as crianças e os jovens, passando de 19% em 2017 para 18,5% em 2018, e a população idosa de 17,7% para 17,3%. "Isso deve-se a uma melhoria das condições de competitividade da nossa economia e a uma ligeira melhoria dos salários nos sistemas de pensões, que é o primeiro fator preventor ou produtor de pobreza, isto é: quanto maiores as desigualdades nos rendimentos primários, maior será a taxa de risco de pobreza", explica Luís Capucha.
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Para o sociólogo, esta descida "também representa muito o efeito de algumas políticas que têm impacto direto na pobreza, nomeadamente o complemento solidário para idosos, que fez com que os idosos deixassem de ser a categoria etária mais atingida pela pobreza, e que passassem ser os agregados domésticos onde existem crianças".
Ainda assim, as crianças são um grupo muito vulnerável no que toca à privação material: "Os baixos salários, o desemprego e a monoparentalidade explicam em grande medida o facto de serem hoje as crianças o segmento da população mais atingido pela pobreza."