Rita Sá Machado: "Há um aumento significativo das doenças sexualmente transmissíveis nos jovens"
A diretora-geral da Saúde diz, em entrevista à TSF e ao Diário de Notícias, que o Plano de Saúde Escolar vai ser alargado aos universitários. Rita Sá Machado considera positivos os resultados, até agora, da campanha de vacinação sazonal da gripe e da Covid-19.
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Está satisfeita com a adesão à vacinação nesta fase do ano?
Eu diria que nós começámos muito bem a nossa vacinação sazonal, mas nós somos sempre muito cépticos. Portanto, as primeiras semanas para nós, são aquilo que nós designamos pelas pessoas que já estão convencidas a fazerem a sua vacinação. Vão vacinar-se, e portanto, ficamos muito satisfeitos. Mas agora vem aí o grande trabalho que é convencer aqueles que ainda não estão convencidos a fazerem a sua vacinação.
E ainda vão a tempo?
Ainda vão muito a tempo. Nós, felizmente, ainda não estamos com temperaturas muito baixas. Ainda não temos um aumento da incidência da maior parte dos vírus respiratórios que nos preocupam nesta altura e por isso as pessoas ainda vão muito a tempo. É um apelo muito importante para que se vacinem contra a gripe e contra a COVID-19, porque as vacinas são seguras e é importante que nós consigamos preparar muito bem aqueles que são os mais vulneráveis para evitar alguns dos cenários que nós vemos sempre no Inverno. Gostamos que, pelo menos aqueles que são os mais vulneráveis, estejam protegidos nesse sentido.
Tem algum número que nos possa dar, que revele a adesão à vacinação?
Sim, aquilo que nós temos visto é que ao nível de taxas de cobertura vacinal atualmente, nos maiores de 65 anos, já estamos acima dos 55%. O que para nós é bom. Ao nível da gripe, o nosso objetivo em todas as épocas, é atingirmos os 75%. No caso da COVID-19, não existe esta métrica e devido a alguns fenómenos - que não vale a pena também destacar, mas que nós temos visto a nível europeu e no continente americano, entre outros - que são fenómenos de hesitação vacinal. E nós sabemos que as populações neste momento vacinam-se menos para a COVID. Portanto, se nós conseguirmos atingir aquilo que atingimos no ano anterior, para nós vai ser uma boa campanha de vacinação. Na altura, conseguimos atingir entre os 50 e os 55% e ficamos satisfeitos. Nesse sentido, e por enquanto, aquilo que nós vemos é que houve uma grande velocidade de vacinação, tanto nos centros de saúde como nas farmácias comunitárias, nos 3500 pontos de vacinação. Agora, notamos um decréscimo nessa velocidade, mas é algo que não nos preocupa. Aquilo que nos diz é que temos de fazer o reforço das mensagens e esse reforço da comunicação para o público também já está a ser feito pelas farmácias e pelos centros de saúde com um novo envio de de SMS, por exemplo. Também manteremos a nossa comunicação em spots de rádio, de televisão, e também ao nível das nossas redes sociais.
O atenuar da vacinação para a COVID-19 já levou alguma situação de vacinas que tenham sobrado e que até tenham sido desperdiçadas por falta de comparência?
Nós temos sempre algum desperdício associado a vacinas, mas o desperdício é habitualmente residual. Pode acontecer que, como as ampolas da Covid-19 não são doses individuais, pode haver uma que por um acaso, foi mal manuseada e tem de haver esse desperdício, mas nós contabilizamos todo esse desperdício e depois, no final da época, publicamos o relatório com esses dados. Aquilo que nós temos visto é que não temos, por enquanto, um grande desperdício associada à COVID-19. Claro que essa costuma ser sempre abaixo de 1% no caso dos centros de saúde. No ano passado, nas farmácias foi um bocadinho superior, mas também era o primeiro ano que as farmácias estavam a realizar a vacinação. Este ano, vemos que estamos com números muito satisfatórios, relativamente ao desperdício associado à COVID-19. E eu diria que esta não é uma preocupação.
Nesta entrevista à TSF e ao Diário de Notícias, a Diretora Geral da Saúde anuncia que está em marcha uma alteração ao Programa de Saúde Escolar. O objetivo é alargar o programa ao contexto universitário, para tocar no tema das doenças sexualmente transmissíveis.
"O nosso Programa Nacional de Saúde Escolar começa numa faixa mais tardia, começa na escola primária e não começava nas creches e agora estamos a fazer um novo Programa, exatamente para trazermos um bocadinho mais de uma forma mais precoce. E este é um programa que sairá no próximo ano em que nós queremos que estes temas sejam abordados de uma forma muito precoce. Porquê? Porque um cidadão que esteja melhor preparado, que seja mais resiliente, mais assertivo, vai depois conseguir lidar com outros problemas de questões ligadas ao controlo do tabagismo, à utilização de drogas, entre outros temas que nós já abordamos durante aquilo que é o percurso escolar e nesse programa de saúde escolar."
Faz sentido estender isso também para os anos seguintes, pelo menos durante a escolaridade obrigatória?
Sim, nós já temos até aos 18 anos. O programa é de saúde escolar e também queremos abranger agora a população universitária. E aqui, para nós, é muito importante tocar nalguns temas. Um dos que nós temos trabalhado, e que criámos um grupo de trabalho exatamente nesse sentido, é o aumento das infecções sexualmente transmissíveis. Para nós, é um tema importantíssimo e de grande relevo. Esse aumento verifica-se na população em geral, mas claro que nas faixas mais jovens, nós sabemos que temos um aumento significativo. E por isso também pretendemos que a população universitária e a população até aos 35 anos, seja abrangida neste contexto.
Outro tema em destaque, durante a entrevista, foi a polémica criada à volta da expressão "pessoas que menstruam", usada numa publicação sobre saúde menstrual. Joana Sá Machado justifica o uso da expressão com as melhores práticas e recomendações das organizações internacionais - nomeadamente todas as agências das Nações Unidas - no sentido de ter informação inclusiva. A expressão "pessoas que menstruam" inclui "mulheres e raparigas adolescentes".
A diretora-geral da Saúde, está em funções há um ano. Diz que os grandes desafios que tem pela frente passam por modernizar a DGS, e criar âmbitos de trabalho que não existem. Destaca a necessidade de começar a trabalhar o tema dos ambientes de trabalho saudáveis e de atualizar o plano de resposta a emergências de saúde pública, sejam elas criadas por problemas químicos ou biológicos. O trabalho está em curso e será apresentado em junho de 2025.
