O casal de iraquianos rumou a Portugal para fugir da guerra e, dizem, Cristiano Ronaldo pesou na decisão. Hoje vivem na Marinha Grande, em Leiria.
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Safa Djafer Sadiki tem 28 anos e a mulher 32. Ela chegou grávida de dois meses e meio. Foram acolhidos pela Santa Casa da Misericórdia da Marinha Grande, que lhes disponibilizou um apartamento no centro da cidade, onde estão a morar.
Depois de três meses, já não tem dúvidas que é em Portugal que querem viver e ver a filha, que nasce em julho, crescer.
Estes primeiros meses têm sido de adaptação à nova realidade com que se depararam no nosso país. Desde janeiro que todos os dias têm aulas de português, mas estão longe de saber ou compreender a língua. Uma barreira que é facilitada por Abbas Muhammad, moçambicano que domina o árabe e faz de tradutor.
Esta semana, é o início de um novo ciclo na vida do casal, uma vez Safa começou a trabalhar numa fábrica de moldes e plásticos da Marinha Grande. A mulher começa na segunda-feira a trabalhar no Lar da Santa Casa.
O primeiro choque em Portugal foi com a alimentação, que era fornecida pela Santa Casa, e que diziam ser demais para eles, mas o verdadeiro problema era com a carne, explica-nos João Pereira. "Eles recusam-se a comer todo o tipo de carne, a não ser que o animal tenha sido morto por um muçulmano, o que nos criava um problema". Que foi resolvido com atribuição "de uma semanada em dinheiro", cujo valor está dentro daquilo que a instituição gastava na confeção da alimentação, explica o Provedor da Santa Casa, que tem procurado dar-lhes a maior autonomia possível.
Safa é muito mais aberto e alegre do que a mulher, que é mais reservada e fechada. Talvez, reflexo do trauma que viveu. Facto que explica as queixas dos vizinhos, logo nos primeiros dias, em relação às discussões do casal durante a noite. Um caso que gerou algum desconforto e preocupação ao Provedor, que acabou por perceber que se tratavam de pesadelos da mulher, que acordava a gritar durante a noite. "Ela viu a mãe a ser morta à sua frente e foge de uma guerra", lembra João Pereira.