"Chegar sem partir", é o título da exposição que o Museu de Serralves dedica a Rui Chafes, que é considerado um dos mais importantes escultores da atualidade.
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Entre esculturas, desenhos de Rui Chafes nunca antes expostos, são três décadas de trabalho, que podem ser vistos desde o interior do Museu aos jardins e ao Parque. Rui Chafes, Prémio Pessoa 2015, convida-nos a refletir sobre o viver em tensão e desconforto.
30 anos de trabalho numa exposição introspetiva, sensorial, que apela aos sentidos. Entre esculturas, desenhos de Rui Chafes nunca expostos, onde passamos do escuro, para o vazio, até sermos encadeados pela força de luzes florescentes.
Inês Grosso é curadora da exposição Rui Chafes - "Chegar sem Partir" e diz que "o Rui fala muitas vezes da ideia de ferida, quer que o trabalho cause ferida, que cause uma tensão e é isso que pretendemos com estas obras. Há uma relação entre corpo, escultura e arquitetura que está mesmo muito presente. As obras do Rui são muito mais do que esculturas, são acontecimentos no espaço e causa alguma fricção ou tensão, o vazio torna-se uma presença no espaço e isso é bastante inquietante".
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A exposição começa no interior do Museu de Serralves, com uma peça suspensa. Na primeira sala somos como que engolidos pela escuridão, Rui Chafes diz que o silêncio e o vazio convidam à introspeção para ver na cegueira. "Aqui conforme o tempo vai passando, começamos a ver as peças que são elevadas. É uma experiência solitária, parecem as frinchas de uma catedral gótica mas começam a vir ter connosco ao fim de algum tempo. Rapidamente se desvanece a cegueira e vemos as esculturas na sua essência".
Da escuridão passamos para o vazio, uma sala onde o único elemento está no chão são uns sapatos, semi-suspensos. Rui Chafes diz que aqui "falta o corpo e este é um momento de expectativa, há um corpo ausente".
Da sala vazia, do corpo ausente, seguimos para uma instalação dos anos 80 - "A não ser que te amem" - que tinha sido destruída após a primeira exposição e foi reconstruída para Serralves. Uma luz azul domina o espaço. Entre máscaras de ferro, esculturas flutuantes ou uma escultura de barras de metal na diagonal, apoiadas por bolas de golfe nas extremidades. Ainda no interior há espaço para ver desenhos nunca antes expostos. Rui Chafes conta que "a técnica mista é tudo, mas muitas vezes eu usava medicamentos para pintar. Não gosto muito de materiais de belas artes, prefiro materiais da vida real. Mercúrio cromo, tintura de iodo, chã, coisas que derramava nos papéis. Há um lado de proximidade com o mundo mais real do que artístico".
A exposição de Rui Chafes estende-se ao exterior do Museu, onde encontramos nove esculturas. "Travessia" foi pensada especificamente para Serralves e vai fazer parte da coleção permanente do Museu. Inês Grosso, explica que se trata de um túnel, que só pode ser visitado enquanto há luz do dia. "Também aqui há muito a relação entre arquitetara, abrigo, refugio, a relação entre o céu e a terra e morte e vida. Temos que fazer um corredor sinuoso e chegamos a uma pequena galeria onde encontramos uma peça suspensa que é iluminada unicamente por um óculo, a partir do por do sol já não é possível ver a peça."
"Chegar sem partir" a escultura que dá nome a esta exposição de Rui Chafes tem 6 metros e cria a ilusão do movimento de rotação, como se folhas de papel estivessem no centro de um furacão. Esta mostra é acompanhada por um catálogo que inclui imagens do atelier e do processo de trabalho de Rui Chafes.
Rui Chafes - "Chegar sem Partir" pode ser visitada a partir desta quinta-feira e até 15 de janeiro.