Ana Gomes diz que o hacker tentou expor os escândalos de corrupção através de denúncias anónimas à PGR. Mas nada foi investigado pelas autoridades.
Corpo do artigo
O pirata informático que terá sido responsável pela revelação de informações que incriminam a empresária angolana Isabel dos Santos no caso Luanda Leaks tem muito mais para denunciar, assegura Ana Gomes.
Em declarações esta manhã no Fórum TSF , a antiga eurodeputada diz que Rui Pinto "tem muita informação mais para além do Luanda Leaks. Tem muitos mais leaks".
Ana Gomes conta ainda que o próprio Rui Pinto lhe contou que antes de decidir expor publicamente os escândalos de corrupção que descobriu, fez "várias denúncias anónimas pelos canais da Procurador-Geral da República (PGR)" que nunca motivaram uma investigação.
No caso do Luanda Leaks, "viu que nada acontecia", por isso recorreu Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ), explica.
"Ele tem muito mais informação e está disponível para colaborar com as autoridades portuguesas" para a analisar, mas até agora estas só quiseram "que ele colaborasse no sentido de se incriminar a si próprio". Ora, "isso ele não vai fazer", garante Ana Gomes.
TSF\audio\2020\01\noticias\28\ana_gomes
Para a antiga eurodeputada, Rui Pinto "está a prestar um extraordinário serviço público à sociedade". Mas a forma como a justiça portuguesa o está a tratar "põe a imagem de Portugal na lama".
O argumento das autoridades de que não podem considerar a informação exposta pelo hacker porque esta foi obtida por vias ilegais é "uma atitude completamente obsoleta", defende Ana Gomes. "A partir do momento que está no domínio publico as autoridades têm de atuar contra a criminalidade exposta."
A diretiva europeia sobre proteção de denunciantes ("Whistleblowers") aprovada no Parlamento Europeu refere-se apenas a pessoas integrantes de organizações e ainda não está em vigor, mas a justiça portuguesa podia recorrer ao artigo 38º da 4.ª Diretiva contra o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo, já em vigor em Portugal, "para proteger Rui Pinto" em vez de o acusar.
Esta diretiva estipula que "os Estados-membros asseguram que as pessoas, incluindo os funcionários e representantes da entidade obrigada que comuniquem suspeitas de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo, quer internamente quer à UIF, são devidamente protegidas de quaisquer ameaças ou atos hostis", lembra a antiga eurodeputada.
Por outro lado, considera Ana Gomes, "Rui Pinto ficou mais vulnerável ao tipo de ataques de que tem vindo a alvo" e ao "encarniçamento da justiça portuguesa", por ter denunciado a corrupção e a criminalidade organizada no futebol - tanto pelos interesses económicos associados ao desporto, como pelas "reações apaixonadas, muitas vezes até violentas", que este motiva.
11752899
Rui Pinto assumiu esta segunda-feira que foi o responsável pela revelação das informações que incriminam a empresária angolana Isabel dos Santos no caso Luanda Leaks.
O pirata informático, envolvido no escândalo "Footbal Leaks", terá sido a pessoa que entregou à Plataforma de Proteção de Denunciantes na África (PPLAAF) um disco externo com toda a informação sobre os alegados negócios fraudulentos da filha do antigo Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, às custas do Estado angolano.
11752591
O 'hacker' português está a ser julgado por Portugal por acesso ilegal a documentos, mas a justiça portuguesa já aceitou colaborar com a homóloga angolana, que utiliza documentação recolhida por Rui Pinto para acusar a empresária Isabel dos Santos de má gestão de dinheiros públicos.