Sá Carneiro e o 25 de Abril: a rutura na Assembleia Nacional e a fundação do PPD
Antigo secretário-geral adjunto do PPD sublinha, em declarações à TSF, o papel do antigo líder do partido na preparação para a revolução.
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Guilherme de Oliveira Martins era secretário-geral adjunto do PPD quando Francisco Sá Carneiro assumiu a liderança do partido. No dia em que se assinalam 40 anos da morte de Sá Carneiro, que era então o primeiro-ministro português, Oliveira Martins recorda à TSF um homem determinado que, já antes do 25 de Abril, colocava a ação politica na defesa dos direitos humanos.
"As liberdades e os direitos fundamentais não eram respeitados e é essa a grande ação de Francisco Sá Carneiro", que visita prisões e propunha "alterações significativas" à legislação.
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"Ao chegar à conclusão de que isso não era possível, rompeu", assinala o antigo secretário-geral adjunto. "Se pensarmos na preparação do 25 de abril, a rutura de Sá Carneiro na Assembleia Nacional foi um dos fatores essenciais."
Maria Inácia Rezola, historiadora, professora no ISCTE e investigadora do Instituto de História Contemporânea, recorda que, na altura da morte, Sá Carneiro era tudo menos uma figura consensual em Portugal e que, ao mesmo tempo que reunia admiradores, criava inimigos.
"No pós-25 de Abril foi sucessivamente criando esses anticorpos", nota. "O simples facto de ter sido um dos protagonistas da fundação do PPD foi particularmente importante para o momento revolucionário", sublinha a investigadora, que realça que a criação do partido "marcou geneticamente a democracia, abrindo as portas à pluralidade política".
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Sá Carneiro morreu quando se dirigia, de avião, para um comício do então candidato presidencial que apoiava: Soares Carneiro, que disputava eleições com Ramalho Eanes. Mas esse apoio não trouxe popularidade ao então primeiro-ministro.
"Decorre não apenas das poucas simpatias que alguns setores teriam em relação a Sá Carneiro, mas também em relação ao próprio general, que muitos procuraram colar a uma extrema-direita eventualmente pouco democrática", explica Maria Inácio Rezola.
Guilherme de Oliveira Martins é uma das pessoas que escreve no livro "40 anos, 40 testemunhos sobre Sá Carneiro" e que junta personalidades da sociedade portuguesa, como os ex-líderes do PSD Francisco Pinto Balsemão, Cavaco Silva ou Pedro Passos Coelho, o antigo presidente do CDS-PP Paulo Portas e figuras do PS como João Soares.
Sá Carneiro, nota Oliveira Martins, tinha um vontade indómita e, nos momentos atribulados vividos a seguir ao 25 de Abril, a sua figura foi determinante no país.
"Foi um mobilizador e alguém que compreendia a necessidade de ter uma democracia ocidental e pluralista", contributo que foi "fundamental". Um homem que se tornou quase um mito para os seus seguidores e, para os historiadores, uma figura fundamental para consolidar a democracia.