Salários por pagar não é "aceitável" e situação financeira no GMG "não pode ser tão má assim"
Ouvido pelos deputados da comissão de Cultura e Comunicação, Marco Galinha garante que já só tem responsabilidades sobre o espólio do Global Media Group e revela que já foram apresentadas soluções ao fundo que agora o controla, mas estão "à espera de resposta".
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O antigo presidente da comissão executiva do Global Media Group (GMG), Marco Galinha, garantiu esta terça-feira no Parlamento que a única responsabilidade que mantém no grupo que é dono da TSF é o do preservar o espólio de “centenas de anos” e rejeitou qualquer papel no não pagamento de salários ou subsídios, como está a acontecer nas publicações deste grupo.
“Não considero de forma alguma aceitável não pagar salários ou não pagar subsídios”, garantiu na comissão de Cultura e Comunicação, a que foi chamado a pedido do Bloco de Esquerda. No entanto, perante as questões dos deputados, Marco Galinha fez questão de assinalar que, desde que vendeu a posição no GMG ao World Opportunity Fund (WOF), não voltou “a entrar” nos assuntos de gestão.
"Estão aqui a fazer-me perguntas da gestão e terão de fazer estas perguntas, eu fiquei com responsabilidades na Global Media para preservar o espólio”, apontou, lamentando até alguma “criatividade escura, profunda nas notícias” sobre o tema.
O espólio, garante, "estava numa garagem no edifício das Torres [de Lisboa, sede do grupo] e nunca vi ninguém preocupado” com o conjunto que tem "centenas de anos e estava a levar com fumo de carros”. O grupo Bel “providenciou um armazém em segurança com o melhor sistema mundial para preservar o espólio da Global Media. O que é que saiu nos jornais? Exatamente o contrário”.
O empresário deixou até um convite, em jeito de desafio, aos deputados para que visitem o espólio: "Já esteve lá uma ex-ministra da Cultura, já estiveram lá pessoas com grandes responsabilidades de Portugal.”
"Está armazenado nas melhores condições, tenho dúvidas que na Europa haja melhores condições que aquelas, mas fica aqui o convite. Mas isto interessa à maledicência, dizer que aquilo está em risco e que se andou a vender em quadros pela candonga. Não. Respeito. Eu já perdi o meu pai, o espólio está a ser tratado como se fosse o meu pai, que eu perdi, com um respeito enorme”, garantiu.
“Situação não pode ser tão má assim porque havia bastantes propostas de compra”
Confrontado com a situação financeira do grupo, que tem sido descrita pelo atual CEO José Paulo Fafe como extremamente grave, Marco Galinha refuta e contrapõe até que “não pode ser tão má assim”.
"Havia bastantes propostas de compras, algumas dos maiores fundos mundiais. Não vou estar aqui a citá-los. Não pode ser tão mau porque eu recebi quatro. Há quatro projetos para querer salvar esta empresa, se isto está tão mal assim... Não concordo”, revelou o antigo CEO.
Ciente da “enorme pressão” pela “falha do fundo”, Marco Galinha disse acreditar que os trabalhadores saibam que, "dadas as condições e documentação já acionada” junto do fundo é necessária "uma resposta urgente para saber o que fazer”, até porque há soluções apresentadas e "à espera de resposta”.
Quanto ao negócio da entrada do WOF na GMG, teve início depois da avaliação do empresário, que entendeu que havia na proposta apresentada “uma oportunidade de valor” para o grupo dono da TSF, JN, DN e O Jogo.
A proposta da WOF surgiu associada a "uma intenção de forte investimento com objetivo da renovação das marcas do grupo, designadamente com a entrada no mercado Internacional” e, considerando Galinha que "o trabalho de estabilização da empresa estava realizado e o foco estratégico do grupo Bel é na área de logística e distribuição”, o processo avançou.
"Durante vários meses foi levado a cabo um rigoroso trabalho de compliance para verificação da idoneidade e da capacidade financeira do fundo, como é prática neste tipo de operações. Foi igualmente realizado um extenso trabalho de due dilligence com resultados positivos para a concretização do negócio”, indicou aos deputados. Concretizada a venda da participação maioritária da Páginas Civilizadas no grupo, "um novo Conselho de administração foi sendo formado com redefinição de funções”.
Assim, desde setembro, "a gestão executiva da empresa passou a ser executada por uma maioria indicada pelo novo investidor”, liderada por José Paulo Fafe, que é ouvido esta tarde na mesma comissão parlamentar.
Esta manhã, numa resposta enviada à TSF, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) esclareceu que os acionistas do GMG têm dez dias úteis para responder às questões do regulador e que "está a realizar procedimentos" para notificar as partes do processo aberto esta segunda-feira contra o WOF.
Depois de notificado, o fundo tem dez dias úteis para "apresentar prova destinada a esclarecer a situação", mas se essas provas ou as medidas tomadas pelo fundo não resolverem o incumprimento, os direitos de voto dos acionistas ficam suspensos de forma imediata e automática.
No início de dezembro, a comissão executiva do GMG anunciou a intenção de despedir entre 150 a 200 trabalhadores e abriu um processo de rescisões cujo prazo inicial de adesão era 20 de dezembro, mas que foi depois prolongado até esta quarta-feira, 10 de janeiro, dia para o qual foi convocada uma greve de trabalhadores do grupo.