Salgado não responde a questões em tribunal. "Dignidade humana e da Justiça estão em causa"
Advogado diz que o antigo presidente do GES não está em condições de "esclarecer com o mínimo de consistência o que quer que seja num processo com esta complexidade".
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O antigo presidente do Grupo Espírito Santo (GES), Ricardo Salgado, compareceu esta esta sexta-feira em tribunal para prestar declarações no julgamento do Caso EDP, mas apenas esteve cerca de dez minutos na sala.
A perícia médica a que foi sujeito determinou que o ex-banqueiro podia ser interrogado, mas o ex-banqueiro chegou ao Juízo Central Criminal de Lisboa visivelmente debilitado, acompanhado pela mulher, Maria João Salgado, e não respondeu às questões juíza-presidente Ana Paula Rosa, limitando-se a responder a perguntas para identificação formal.
Em declarações aos jornalistas à saída do tribunal, o advogado Francisco Proença de Carvalho reiterou que Ricardo Salgado sofre de doença de Alzheimer, pelo que seria impossível prestar declarações.
“A doença de Alzheimer não é uma brincadeira, uma coisa grave e que afeta a capacidade cognitiva. O meu cliente muitas vezes não sabe o dia em que está, não sabe onde está. Perde-se em casa muitas vezes não sabe nome de familiares próximos.”
Em “defesa da dignidade humana dele”, mas também em “defesa da dignidade da Justiça portuguesa, ele não pode, obviamente, esclarecer com o mínimo de consistência o que quer que seja num processo com esta complexidade”, defendeu Francisco Proença de Carvalho.
"Acho que uma pessoa nestas condições não tem direito a um processo justo e equitativo, porque não se pode ela própria, autodefender, explicar aquilo que são os seus factos e que são as suas razões”, reforçou.
O advogado ameaçou ainda com um eventual processo contra o Estado português no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos pela forma como a justiça tem lidado com o caso. "Se a justiça portuguesa continuar a comportar-se da maneira mais indiferente a esta situação, o Estado português será de certeza condenado no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos. Não tenho dúvidas que mais tarde ou mais cedo a justiça portuguesa será digna da sua história humanista e democrática."
A convocatória ocorre dois anos e um dia depois de Ricardo Salgado ter marcado presença num tribunal pela última vez, então no julgamento do processo separado da Operação Marquês, em 8 de fevereiro de 2022, quando alegou não estar em condições de prestar declarações por lhe ter sido diagnosticada doença de Alzheimer, a mesma patologia que esteve na base da perícia neurológica realizada agora no âmbito do Caso EDP.
Ricardo Salgado, está a ser julgado no Caso EDP por suspeitas de corrupção ativa para ato ilícito, corrupção ativa e branqueamento de capitais, num processo em que são também arguidos o ex-ministro da Economia Manuel Pinho (corrupção passiva para ato ilícito, corrupção passiva, branqueamento e fraude fiscal) e a sua mulher, Alexandra Pinho (branqueamento e fraude fiscal - em coautoria material com o marido).