
Pedro Santana Lopes
Global Imagens/Ângelo Lucas
O provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa defende que a instituição não pode substituir o Estado de «modo ilimitado», porque os recursos são finitos, além de poder desvirtuar a sua missão.
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Pedro Santana Lopes, em entrevista à agência Lusa por ocasião dos dois anos de mandato à frente da instituição, adianta que a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) vai tendo capacidade para atender e dar resposta a todos os pedidos de ajuda que lhe chegam, mas lembra que essa capacidade não é ilimitada.
«A Santa Casa substitui-se ao Estado, mas não se pode substituir de um modo ilimitado, porque senão isso seria desvirtuar um pouco a missão ou atingir o trabalho da Santa Casa, porque nós não temos recursos ilimitados», defende o provedor.
Exemplifica, a propósito, que se começar «a cair em cima [da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa] trabalho a mais», a solução terá de passar pela contratação de mais pessoal ou mesmo pela construção de mais equipamentos. «Mas tudo isto são milhões de euros por ano», salienta.
A propósito do trabalho que a instituição faz em substituição do Estado, Santana Lopes dá como exemplo 35 equipamentos que o Estado passou para a gestão da SCML há três anos e que representam mais 22 milhões de euros por ano no orçamento da Santa Casa.
Santana Lopes conta que estes equipamentos começaram a ser transferidos para a Santa Casa ainda «na fase final do Governo Sócrates». «Mas não há diferença entre o Governo Sócrates e este, porque este também pediu para a Santa Casa continuar com estes equipamentos e tivemos de resolver o problema», explica.
A instituição viu-se obrigada a clarificar com o Estado as condições dessas novas responsabilidades, depois de terem acontecidos algumas situações «caricatas».
«Há um ano, funcionários e inspetores do Instituto de Segurança Social pediram para ver esses equipamentos, que tinham sido deles, e disseram que precisavam de obras que já deviam ter sido feitas há uma data de anos», conta.
Esta é uma das muitas situações que para o provedor demonstram que continuam a existir níveis de responsabilidade entre o Estado e a SCML que, por vezes, «são um pouco imprecisos».
«Nós tivemos de trabalhar para precisar (...) a situação desses equipamentos», definir níveis de intervenção, a fundamentação das responsabilidades financeiras, mas também o enquadramento das receitas dos jogos sociais, esclarece.
Santana Lopes diz que foi um «trabalho silencioso» com o Estado, mas «importante para clarificar, de uma vez por todas», qual é o estatuto jurídico da Santa Casa.
Nesta entrevista, o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa revela ainda que, entre 2011 e 2013, quase quadruplicou o número de funcionários que pediram ajuda à instituição, a maior parte dos quais em busca de apoio monetário.