50 anos depois da coluna militar do “Capitão Sem Medo”, Salgueiro Maia, ter saído do quartel rumo a Lisboa para derrubar a ditadura, a cidade mobilizou mais de 30 parceiros para um programa vasto inserido nas comemorações nacionais da revolução do 25 de Abril.
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A Porta de Armas da Escola Prática de Cavalaria de Santarém abriu-se esta semana para a apresentação do programa vasto das comemorações dos 50 anos do 25 de abril. Precisamente no mesmo local de onde partiu a coluna de militares que acompanhou o capitão Salgueiro Maia, naquela madrugada de 1974, rumo a Lisboa, para se juntarem ao restante movimento das Forças Armadas que alinhou no processo revolucionário que depôs o regime salazarista do Estado Novo.
O programa é vasto, reúne mais de 30 organizações, muitos eventos, de música, teatro, cinema, mas o vereador Nuno Domingos, com o pelouro da Cultura na câmara de Santarém, destaca a homenagem a Fernando Salgueiro Maia, logo a 3 de abril, data da morte do Capitão sem Medo.
Para a professora, Maria Inácia Rezola da Comissão das Comemorações do 25 de abril, impõe-se marcar o meio século da revolução por todos os motivos e até porque esta é uma efeméride (número redondo) que representa a última oportunidade para os mais novos contactarem fisicamente com os homens que fizeram a revolução, uma vez que a média de idades dos capitães de Abril ronda os 84 anos.
A viúva do Capitão Salgueiro Maia olha para a atualidade e afirma que nunca foi tão importante assinalar as conquistas de Abril, mas Natércia Maia admite que se o marido fosse vivo estaria triste com o momento atual do país, mas “nunca foi homem de desistir e acreditou que só com a revolução se iria construir um país melhor”.
Um dos companheiros de Salgueiro Maia que a 27 de abril subirá com outros capitães sobreviventes, ao varandim na praça do município para agradecer à população, marcou presença na apresentação do programa comemorativo dos 50 anos da revolução, contando episódios daquela noite, quando chegaram ao quartel e comunicaram ao comandante que a coluna de militares iria pegar nas chaimites e partir para Lisboa.
Garcia Correia é um dos capitães de Abril, que em conjunto com Correia Bernardo (que logo na 1ª incorporação para a guerra do ultramar, foi ferido em combate na Guiné) ficaram encarregues do plano B, a barricada da cidade, com tanques e atiradores, caso falhasse o golpe. Não consegue conter lágrimas de emoção, quando recorda o momento em que ouviu no rádio, que o movimento tinha tido sucesso e pede aos jovens para nunca se esquecerem o que custou conquistar a democracia e que exerçam o seu direito de voto.
Ao capitão de Abril, Correia Bernardo coube a tarefa de fazer o guião do espetáculo encenado por Rita Lello a partir do poema de Sophia de Mello Breyner que vai marcar os momentos da decisão a 25 de abril de 1974 e também de voz embargada, recorda a coragem de Fernando (Salgueiro Maia) como lhe chama ainda hoje, naquela madrugada que todos esperavam.
O convite à participação da população
O espetáculo vai reconstituir os acontecimentos de 24 para 25 de abril chama-se “Esta é a Madrugada por que Esperava” e pela primeira vez, vai contar com a saída dos veículos militares do quartel para fazer o mesmo percurso da coluna que acompanhou Maia até Lisboa. Na capital vão juntar-se aos eventos que estão a ser programados desde o terreiro do Paço, ao Largo do Carmo e que marcam a rendição do primeiro-ministro de então, Marcello Caetano.
Este é um dos muitos pontos altos da programação, que junta mais de 30 entidades, desde o município de Santarém, à organização das Comemorações Populares do 25 de Abril de Santarém-Associação Cultural e Comissão Comemorativa 50 Anos 25 de Abril.
As icónicas fotografias saídas da lente de Alfredo Cunha, autor do célebre retrato de Salgueiro Maia no Largo do Carmo e de muitas outras imagens que eternizam a Revolução de Abril, vão estar em exposição a partir do dia 3 de abril, no Jardim da República e conta também com a reprodução de uma gravura que Alexandre Farto/Vhils realizou para o novo livro do fotógrafo.
Destaque ainda para a cerimónia de apresentação do carro de combate no pódio junto à fachada da Ex-Escola Prática de Cavalaria no dia 24 de abril, às 18 horas, com o descerramento de uma placa que assinala a saída da coluna militar liderada por Salgueiro Maia e logo a seguir será apresentado o novo Centro de Interpretação “Santarém Militar - CISM”, às 18h30, na Porta de Armas da Ex-EPC. No dia 25 de abril, há cravos para Salgueiro Maia, às 11 horas, no Jardim dos Cravos. E, no sábado, dia 27, será recriado o regresso da coluna militar, às 11 horas, no Largo do Município, enquanto que a festa será permanente no Jardim da República, com a participação de vários grupos.
Espetáculos simbólicos
O primeiro é no dia 5 de abril, às 21h30, com o cantor Manuel Freire, um dos nomes incontornáveis da canção de intervenção, é acompanhado por João Paulo Esteves da Silva ao piano e por Ricardo Dias ao acordeão, com destaque para “Pedra Filosofal”, poema de António Gedeão, que se tornou num hino e numa bandeira da resistência num concerto no âmbito dos 12 anos da AJA Santarém-Associação José Afonso.
A 6 de abril, o álbum “Igreja Lesbiteriana, Um Chamado” e “Faminta”, da artista brasileira Bia Ferreira, de Minas Gerais, que define a sua música como “MMP – Música de Mulher Preta”, no palco do Teatro Sá da bandeia, às 21h30.
O Cantautor brasileiro Luca Argel traz 'Sabina' e muito mais ao palco do Teatro Sá da Bandeira, no dia 12 abril, às 21h30.
Sara Barros Leitão vai apresentar a nova criação “Guião para um país possível” na noite de 26 de abril, às 21h30, a partir de registos transcritos na Assembleia da República que contam os últimos 50 anos da nossa democracia e vai contar em palco com os atores João Melo e Margarida Carvalho.
Os bilhetes para os espetáculos no teatro Sá da bandeira podem ser adquiridos na bilheteira, ou reservados através da plataforma online BOL.
