Santo Amaro. População quase mudava de vida mas a escola ficou por lá
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Foi por pouco que Vânia Balejo não pensou a fundo em dar um novo rumo à vida. A escola básica da freguesia de Santo Amaro estava marcada para fechar, o que obrigava o filho, de cinco anos, a deslocar-se para a sede de concelho, em Sousel. Caso se confirmasse, os pais equacionavam mudar-se de malas e bagagens para esses dez quilómetros mais ao lado.
"Para já, iríamos tentar contornar as coisas, mas a mudança de localidade era uma possibilidade que estava em aberto, tal como outras pessoas aqui da terra já tinham dito que iam fazer", assume esta moradora.
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Porém, há cerca de um mês surgia a boa notícia. Afinal, a escola vai manter-se aberta para 20 crianças e duas professoras, facilitando a vida também a Anabela Silva. Trabalha em Estremoz, a 15 quilómetros, e com a permanência do ensino na freguesia pode continuar a deixar a filha com a tia.
"Muitos dias vou levar a minha a filha às 04h30 da manhã a casa da tia, porque eu e o pai entramos às 5.00 horas. Se tivesse que mudar de escola seria uma grande dificuldade. Fiquei aliviada", confessa, enquanto Isilda Bento até tem a solução dos avós, mas assinala o risco do "desenraizamento" caso a filha tivesse que prosseguir o ensino em Estremoz.
"Os mais velhos e mais novos brincam todos em conjunto. Era uma mudança muito radical", diz, Luís Valadeiro, presidente da Associação de Jovens e pai de dois filhos, alertando para a importância de conservar os jovens por aqui.
Entregou-se a uma causa associada à preservação de tradições e avisou que só travando o despovoamento das freguesias "vai ser possível manter viva a memória desta terra."
Nélio Painha, presidente da Junta de Santo Amaro, refere ser esta a razão que leva a escola a apostar no ensino da cultura local junto das crianças. "Os meninos aprendem o que é a bênção do gado, que é única no país, o que são os compadres e comadres, que é feito no Entrudo, que é diferente do Carnaval", exemplifica o autarca, apelando a uma "discriminação positiva" por parte do Governo que permita relançar o futuro do interior.
Numa freguesia onde os transportes públicos são uma miragem, assinala-se a perda de 300 habitantes nos últimos 20 anos. Hoje são apenas 600.
