Santos Silva diz que esquerda deve "inutilizar" eventual aliança entre direita e extrema-direita na UE
"Nós não podemos permitir que haja uma maioria aritmética de votos no Parlamento Europeu entre Partido Popular Europeu (PPE) e os dois grupos de extrema-direita europeia", afirma o presidente da Assembleia da República.
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O presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, defendeu esta quinta-feira que a esquerda democrática europeia deve "tornar inútil" uma eventual aliança entre o centro direita e a extrema-direita no Parlamento Europeu, em 2024.
Numa intervenção intitulada "As responsabilidades da esquerda democrática na construção da União Europeia", o também deputado do PS eleito pelo círculo Fora da Europa deixou aos jovens presentes em Évora, na Academia Socialista, a sua opinião sobre qual a estratégia política que a esquerda democrática europeia deve seguir, tendo em vista as eleições para o Parlamento Europeu em junho do próximo ano.
"É um objetivo muito importante do ponto de vista político para a esquerda democrática europeia tornar inútil essa possível aliança, inutilizar a aliança política entre centro direita e extrema-direita. Porque nós não podemos permitir que haja uma maioria aritmética de votos no Parlamento Europeu entre Partido Popular Europeu (PPE) e os dois grupos de extrema-direita europeia. Porque sabemos que, se essa maioria existir, ela funcionará politicamente", sustentou.
Momentos mais tarde, em declarações aos jornalistas à margem desta intervenção, Santos Silva foi questionado sobre se as eleições europeias poderão ser um teste para o PS, tendo o socialista respondido que "as eleições europeias são um teste à representação europeia".
"As eleições europeias são tipicamente o que nós em ciência política chamamos de eleições de segunda ordem e, portanto, elas não representam um teste com significado para a política interna do ponto de vista institucional. Portanto, não são um teste nem para o PSD, nem para o PS, do ponto de vista da política interna e do seu ciclo institucional", afirmou.
Esse teste, continuou, "no que diz respeito ao parlamento e, por consequência ao Governo, ocorrerá provavelmente em outubro ou setembro de 2026".
Entre os objetivos que Santos Silva considerou importantes que a esquerda democrática europeia tenha "claros no seu espírito" está o reforço do peso desta família política, de forma a reforçar a capacidade de influenciar o processo de decisão europeu "e pontuar a agenda política europeia".
Será também importante, continuou, que a esquerda democrática europeia preserve a "existência hegemónica" de famílias políticas pró União Europeia.
O presidente do parlamento realçou perante os jovens presentes na Academia Socialista a importância de existir uma relação de confiança e identificação entre os cidadãos e os partidos políticos e instituições democráticas.
"As pessoas que confiam em nós, que votam em nós - quer nós socialistas, quer nós instituições democráticas - têm que continuar a confiar em nós e a sentir-nos a nós como seus, e a eles como nossos", vincou.
Santos Silva deixou ainda conselhos para o discurso e a comunicação política da esquerda democrática, avisando que é necessário evitar "várias armadilhas" que os socialistas terão "pela frente na Europa".
Os socialistas devem assim, continuou, "usar a linguagem e os temas da esquerda democrática evitando a armadilha das 'guerras culturais', das radicalizações que se alimentam reciprocamente e das políticas de nicho".
Um dos temas que Santos Silva antevê como assunto nas eleições europeias de 2024 é a relação entre a agenda social e a ação climática, à qual a esquerda europeia democrática deve responder com a sua proposta de "articulação entre uma Europa social, crescimento da economia e a ação climática", defendendo uma transição ambiental sem afastar as pessoas.