Santos Silva revela "cinismo" ao "pedir desculpa por ato que não é da sua responsabilidade"
Adão Carvalho acusa, em declarações à TSF, o presidente da Assembleia da República de estar a "tentar imiscuir-se naquilo que é uma esfera independente do sistema judicial".
Corpo do artigo
O presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público lamentou esta quinta-feira as declarações de Augusto Santos Silva, que pediu desculpa ao presidente da Câmara de Sines por ter estado preso seis dias, sem ser indiciado. Adão Carvalho acusa o líder da Assembleia da República de "cinismo" e de não contribuir para o "regular funcionamento das instituições democráticas".
TSF\audio\2023\11\noticias\16\adao_carvalho_1_excessivo
O líder do sindicato considera, em declarações à TSF, que as afirmações de Santos Silva são "manifestamente excessivas", afirmando que apelidá-las deste modo é "o mínimo" que consegue fazer, ao mesmo tempo que lembra que o presidente do Parlamento "não é um comentador televisivo, nem de jornais".
"Evidentemente que o sistema judicial -o Ministério Público e os juízes - têm autonomia e independência que lhes permitem ficar imunes a esse tipo de comentários ou declarações. Apenas se lamenta que tenham sido feitas, sobretudo pelas funções que exerce, ou seja, não é um comentador televisivo, nem de jornais, não é um qualquer cidadão, é alguém que tem responsabilidades e que deveria contribuir para o regular funcionamento das instituições democráticas e contribuir para o respeito que elas devem merecer", vinca.
TSF\audio\2023\11\noticias\16\adao_carvalho_2_esta_a_imiscuir_se
Adão Carvalho acusa igualmente Augusto Santos Silva de "cinismo" e de estar a "imiscuir-se" em assuntos que só dizem respeito ao poder judicial e não ao poder político.
17347915
"Compete ao presidente da Assembleia da República pronunciar-se nesses termos sobre qualquer ato praticado num processo em curso. No fundo, o sistema judicial é independente quer da Assembleia da República, quer do poder Executivo e, nessa medida, também revela algum cinismo, porque estar a pedir desculpa de um ato que não é da sua responsabilidade, não vejo qual a necessidade e parece-me que no fundo está a tentar imiscuir-se naquilo que é uma esfera independente do sistema judicial", defende.
Sobre o processo que corre no Supremo Tribunal de Justiça e que diz respeito ao primeiro-ministro, António Costa, o presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público sublinha que a Justiça tem o seu tempo e é imune a calendários eleitorais.
TSF\audio\2023\11\noticias\16\adao_carvalho_3_costa
"A competir a quem é o responsável pela titularidade do inquérito, no caso do inquérito, diz o primeiro-ministro, será o Ministério Público junto do Supremo Tribunal de Justiça e em função dos elementos que tem no processo, no fundo dar o andamento mais rápido possível, mas não está necessariamente vinculado a qualquer timing político, nem deve estar", aponta, acrescentando que a finalidade do inquérito deve ser "esclarecer devidamente a investigação, recolhendo os meios de prova, com a celeridade que for possível e no fim proferir o despacho no sentido de acusação, no caso de recolha prova".
Santos Silva diz-se "triste" com a Operação Influencer, mas "também não se conforma", e lembra a detenção do presidente da Câmara de Sines que esteve "num calabouço" durante seis dias, sem ser indiciado.
"Já alguém lhe pediu desculpa? Peço-lhe eu, porque sou presidente da Assembleia da República", atira.