"São como anedotas picantes." Antigos ministros da Educação questionam utilidade dos rankings
Estas médias servem "como marketing" dos colégios, considera o professor catedrático António Teodoro, em declarações no Fórum TSF. E Nuno Crato alerta: "Nós estamos, neste momento, a falar sobre o que as escolas eram há um ano"
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É "errado" tentar criar a ideia de "qualidade do trabalho realizado nas escolas" através do ranking tornado público esta sexta-feira. É esta a opinião de João Costa. No Fórum TSF, o ministro da Educação durante o último Governo de António Costa sublinha que esta "seriação baseada apenas nos exames contribui para uma imagem, que se instala, de que há uma diferença de qualidade entre escola pública e escola privada".
"Uma comparação do que não é comparável." Entre as instituições de ensino, realça ainda, existem diferentes contextos socioeconómicos: "Estar num bairro muito problemático, conseguir que estes alunos tenham sucesso, que concluam o ensino secundário é muito mais trabalhoso para aqueles professores do que [para aqueles que lidam com] alunos que chegam [às aulas] com todas as condições e, à margem da escola, ainda pagam explicações."
Nesta linha de raciocínio, o professor catedrático António Teodoro enfatiza que estas classificações servem apenas os colégios privados, "porque funcionam, sobretudo, como marketing".
Por sua vez, o ex-ministro da Educação Nuno Crato considera estranho que, desde 2015, Portugal esteja a cair "estrondosamente" nas "melhores" estatísticas internacionais de avaliação, referindo-se a instrumentos como o PISA, mas, a nível interno, esteja a subir: "Algo não está bem. Estes exames não têm sido feitos com os critérios que deveriam ser aplicados."
Assinala igualmente que os dados divulgados esta sexta-feira dizem respeito ao ano passado: "Nós estamos, neste momento, a falar sobre o que as escolas eram há um ano." Para o antigo governante, é fulcral mais rapidez na divulgação destas estatísticas para serem melhor aproveitadas na tomada de decisões.
A análise feita, seja pela comunicação social, seja pelos estatísticos, seja pelas escolas nelas presente, deve ser cuidadosa. O também matemático alerta para "algo que está e tem vindo a distorcer a divulgação de resultados nos últimos anos": as provas "com base nas quais são construídas estas médias deixaram de ser um instrumento válido e fiável da evolução dos alunos, porque os seus critérios têm vindo a mudar de ano para ano". Ou seja, "a própria informação de base sobre o que se está a passar nas escolas é, neste momento, muito deficiente".
No entender de David Justino, há interpretações que não são razoáveis. "Os rankings são como as anedotas picantes: tudo depende da leitura que se faz delas. Ou seja, a anedota picante não precisa de dizer asneiras. Porquê? Porque a maldade está em quem ouve", explica o responsável pela pasta da Educação no governo de Durão Barroso. O mesmo acontece com estas classificações: "o problema" não está na publicação destes números, mas sim nas conclusões que se tira dos mesmos.
O presidente do Conselho Nacional da Educação, Domingos Fernandes, tem dúvidas sobre a utilidade destas listas e deixa perguntas para reflexão: "Em que é que os rankings contribuíram para uma maior integração de alunos que vêm de meios desfavorecidos? Em que é que os rankings têm contribuído para o trabalho nas escolas com alunos vindos de meios culturalmente, economicamente e socialmente fragilizados necessitam? E em que é que os rankings têm contribuído para que mais alunos vindos dessas classes ingressem no Ensino Superior?"
Uma vez mais, os rankings das escolas revelam que os estabelecimentos de ensino privado lideram. Num universo de 424 escolas públicas e 76 privadas, os primeiros 38 lugares pertencem a colégios privados.

