Sapadores-bombeiros "revoltados" prometem novas formas de luta caso não encontrem margem negocial
O presidente do Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores confessou, à TSF, sentir-se "ofendido enquanto bombeiro" com as propostas do Governo
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Os bombeiros voltam a reunir-se na próxima semana com o Governo, mas avisaram que "não aceitam migalhas" e avançarão para novas formas de luta caso não haja abertura negocial no próximo encontro.
Centenas de sapadores de várias regiões do país concentraram-se esta segunda-feira em Lisboa para exigir a valorização da carreira, que não é revista há mais de 20 anos, e no final da reunião entre sindicatos e Governo prometeram que "não vão aceitar migalhas".
No final da reunião negocial, o sindicalista Ricardo Cunha anunciou aos colegas as propostas apresentadas pelo Governo, sendo recebidas com apupos e palavras com "vergonha" e "respeito".
"A proposta apresentada pelo Governo foi a redução de carreiras, que nós não aceitamos. Isso foi dito logo por todos os sindicatos. Depois, apresentam salários que são iguais aos que temos atualmente. Onde é que está aqui a valorização salarial? O que nós temos foi isto mesmo. Se queremos trazer mais pessoas para a carreira, temos de aumentar os salários", argumentou, em declarações à TSF, Ricardo Cunha, presidente do Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores.
O sindicalista assumiu-se mesmo "ofendido enquanto bombeiro" com as propostas do Governo.
"Os bombeiros sentem-se revoltados, é normal. Eu também me sinto. Agora imagine nós lá dentro, que temos vontade de expressar a nossa revolta e não podemos, por uma questão de educação. Enquanto bombeiro, senti-me completamente ofendido com aquilo que o Governo está a apresentar", confessou.
Os bombeiros querem ter um horário semanal de 35 horas, sendo que "em média, trabalham 45 horas por semana", pedem que os suplementos passem a ser pagos 14 meses em vez de 12, e que haja um aumento dos suplementos de 30% sob o salário base, segundo Ricardo Cunha.
O Governo, acrescentou o sindicalista, "diz que não pode atender ao pedido do aumento dos suplementos, e a proposta que apresenta é de um aumento de 5% em 2025 e de 10% em 2026".
"Querem dar-nos um suplemento de disponibilidade permanente de 50 euros, que significa poder ser requisitado a qualquer hora do dia e a qualquer dia da semana", acrescentou Ricardo Cunha, dizendo que este subsídio de função engloba três subsídios.
O líder sindical lamentou ainda aquilo que apelidou de "malabarismos", com o Executivo a falar em "aumentos de 15 a 20%, quando é completamente falso".
"Ou vamos trazer honestidade para as negociações, ou então vamos caminhar pelo caminho errado. O que o Governo apresentou, no nosso entender, é inconstitucional", alertou.
Ainda assim, o socorro às populações "não está em causa": "Um sapador-bombeiro nunca mete em causa o socorro à população. Nunca metemos e nunca iremos meter, até porque temos essa obrigação."
O anúncio das propostas que terão sido apresentadas na reunião levou à revolta dos bombeiros presentes em Lisboa e que esta segunda-feira vieram de várias zonas do país, desde Viseu, a Coimbra, Leiria ou Loulé.
No final da reunião, dezenas de bombeiros desceram até ao Campo Pequeno e num encontro informal voltaram a exigir "respeito", tentando mobilizar os colegas para estarem novamente presentes na próxima reunião, que ficou agendada para 3 de dezembro.
"Dia 3 é o nosso último dia. Eles dizem que querem negociar. Se há hipóteses para negociar, tudo bem. Se não há, acabou-se. Então vamos para outras formas de luta", gritou o bombeiro dos sapadores de Lisboa Ricardo Ribeiro, que foi fortemente aplaudido pelos colegas.
"Em vez de sermos nós atrás deles a pedir migalhas, têm de ser eles a vir atrás de nós", defendeu Ricardo Ribeiro, recordando que a carreira não é valorizada desde 2002, quando os bombeiros em início de carreira recebiam o equivalente a "dois ou três salários mínimos nacionais e hoje, sem os subsídios, recebem abaixo do salário mínimo".
A maioria dos bombeiros que participou hoje no protesto estava fardado, mas também havia elementos com t-shirts pretas onde se liam frases como "sapadores sem luta" ou "não há bombeiros".
Ricardo Ribeiro lembrou que são cada vez menos os candidatos à profissão, em parte devido aos baixos salários e más condições de trabalho: No início do século, concorriam mais de mil pessoas para as vagas em Lisboa que rondavam as 80. Atualmente, "há 60 vagas, para as quais concorrem apenas 54 elementos", contou.
"Já que não têm noção...tenham respeito" era um dos cartazes da manifestação que começou ruidosa com palavras de ordem como "respeito" e "vergonha" e lançamento de petardos.
"Novamente as propostas ficam aquém, mas já há uma melhoria", anunciou Leonel Mateus, vice-presidente do Sindicato Nacional de Bombeiros Sapadores, acrescentando que regressarão à mesa de negociações dentro de uma semana, mas prometendo "não mexer uma vírgula" no seu caderno reivindicativo.
Os Sapadores Bombeiros estão presentes em 25 cidades do país, com mais de três mil elementos.
