“Se calhar, para o ano, ainda me vão ver a dormir na carrinha outra vez." Profissionais de Educação em greve por valorização das carreiras
A TSF esteve na concentração do S.T.O.P na zona norte do país, em Guimarães. Falou com assistentes operacionais, professores e encarregados de educação. Todos estão de acordo: a luta é necessária e é preciso ação por parte do Governo.
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Apitos, tambores, faixas e cartazes, onde se podiam ler frases como “com urgência, uma escola pública de excelência”, ou “por mais psicólogos e assistentes sociais”. Muitas pessoas usavam uma t-shirt com o sinal de trânsito do STOP, já muito usado pelo Sindicato de Todos os Profissionais de Educação (S.T.O.P.), com a frase “a lutar também estamos a educar”.
As palavras de ordem eram projetadas por um microfone e colunas de som. Entre contestações como “aumentos salariais, merecemos muito mais”, ouviu-se também “a escola unida jamais será vencida”, e uma adaptação à canção de António Variações:
“Quando o Governo não tem juízo
E não nos dá aquilo que é preciso
O S.TO.P. não para.”
Carla leite é assistente operacional em Guimarães há mais de 30 anos e explica porque participa em todas as greves. “Não subimos nas carreiras, os nossos salários estão congelados, e eu, neste tempo todo, subi uma vez de categoria. Tenho colegas que - não têm culpa nenhuma - entram agora e estão com o mesmo salário que eu”.
Já assistente operacional de Famalicão, Mónica Duarte, deixa alerta: “não chegamos para garantir a segurança [dos alunos].” Sublinha ainda que os profissionais estão num ponto de exaustão inadmissível. “A primeira pessoa que [os pais] veem quando chegam à escola é um assistente operacional, é nós que nos entregam o tesouro deles, e é a nós que confiam a segurança deles. Não tendo profissionais suficientes, tendo profissionais exaustos, há mais baixas. Há colegas que vão para casa com burnout e exaustão física total”.
Além dos assistentes operacionais, outros profissionais de educação juntaram-se à concentração. É o caso de Rui Garcia, que é rápido a identificar-se: “Eu sou aquele professor que dormiu na carrinha em Elvas o ano passado. Estive a 430 quilómetros de casa”.
Hoje, o docente está efetivo, mas a sua situação profissional continua longe de estar estável. “Aos 58 anos de idade torno-me efetivo aos quadros a 250 quilómetros na minha casa. Depois, concorri à mobilidade interna, o que me permitiu aproximar-me da minha área de residência, e neste momento leciono Educação Física no agrupamento de escolas de Arcos de Valdevez. Estou a 30 km de casa, mas isto é uma situação transitória por este ano. No próximo ano, o meu lugar de provimento é no centro do país.” Com um sorriso na cara e tom irónico, desabafa à TSF: “Se calhar, para o ano, ainda me vão ver a dormir na minha carrinha outra vez”.
Rui Garcia contesta que “o Governo tem, de uma vez por todas, valorizar estes profissionais [da educação]. São fundamentais”. O professor acusa o Governo de fazer muitas promessas e de querer promover uma realidade do ensino em Portugal melhor do que realmente é.
Os profissionais estiveram concentrados em frente à Escola EB 2/3 João de Meira, em Guimarães. Várias escolas fecharam em todo o país, não foi o caso desta, que abriu portas aos alunos pouco antes das 08h00. A TSF falou com encarregados de educação e todos disseram que percebem a luta destes profissionais e que, se hoje não houvesse aulas, teriam de ficar em teletrabalho.
