"Se isto vai abaixo, vou ter muita pena". Apesar da sujidade, lisboetas lamentam abate de jacarandás

Alguns moradores da Avenida 5 de Outubro, em Lisboa, estão de pé atrás com a ideia da Câmara de retirar os jacarandás que ali estão há várias décadas. Queixam-se da sujidade que as folhas fazem, sobretudo no inverno, mas garantem que nada substitui as flores lilases destas árvores, que todas as primaveras trazem uma nova cor à rua lisboeta.

"Cá de baixo não nos apercebemos tanto, mas quem está lá em cima vê que isto é lindo no mês de junho", garante Rosário, moradora no 8.º andar de um dos prédios na Avenida 5 de Outubro há mais de 60 anos. Os jacarandás em flor recordam-lhe as procissões religiosas da terra natal, mas também reconhece que as folhas dão trabalho, sobretudo, no inverno. "Os carros ficam todos sujos", avisa.

A Câmara Municipal quer tirar 40 jacarandás da placa central deste quarteirão, entre a Avenida das Forças Armadas e a Avenida Sidónio Pais, junto à estação de comboios, para construir um novo parque de estacionamento, nos terrenos da antiga Feira Popular, que pertencem agora à seguradora Fidelidade. O plano passa pelo abate de 25 árvores e pela transplantação das outras 22 para outras áreas da freguesia das Avenidas Novas.

Os moradores e comerciantes foram avisados desta intervenção, mas Franklin Fernandes, que gere um dos cafés mais antigos da zona, teme que as obras possam afetar o negócio. "A Câmara e a Fidelidade enviaram o croqui do projeto que vai nascer, mas não tenho mais informação", lamenta.

O executivo de Carlos Moedas assegura que, no lugar destes jacarandás, vão ser colocadas 30 novas plantas, de espécies diferentes, mas Luísa Figueiredo, que gere outro dos cafés da rua, entende que nada substitui o jacarandá. "Em frente à estação de comboios, as árvores têm um tom alaranjado. Aqui, mesmo em frente à minha porta, são daquele lilás azulado. São lindas", garante, deixando a certeza de que terá "muita pena, se isto for abaixo".

Contactada pela TSF, a junta de Freguesia das Avenidas Novas, responsável pelos espaços públicos neste local, só se vai pronunciar depois da conferência de imprensa desta tarde, com a Câmara Municipal de Lisboa e os responsáveis pela obra do parque de estacionamento. Há também uma petição a circular na internet, contra o abate destas árvores, que conta já com mais de 30 mil assinaturas.