"Se não tivesse experiência, estaria em pânico." Portuguesa escolhida para investigação em defesa dos índios da Amazónia
Rita Fonseca, professora na Universidade de Évora, vai participar numa missão da ONU e da União Europeia. É uma missão de risco, só possível com apoio militar, por causa dos mais de 20 mil garimpeiros ilegais, armados, que existem na maior floresta do mundo.
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Rita Fonseca é geóloga, especializada em Geoquímica Ambiental, o ramo do conhecimento que caracteriza o meio ambiente através do estudo dos elementos químicos que existem na superfície da Terra.
Numa altura em que têm sido vários os alertas sobre o risco que correm os índios Yanomami, é precisamente nesse território indígena, sobretudo no estado de Roraima, no Brasil, que a investigação vai ser feita.
A professora portuguesa e um colega dos Países Baixos vão medir o nível de mercúrio existente nos rios que banham a Amazónia. O mercúrio, usado pelos garimpeiros para "fixar" o ouro, é um dos metais pesados mais perigosos, e entra na cadeia de alimentação dos Yanomami através do peixe e das plantas, o que coloca este povo em sério risco.
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No início do ano, Lula da Silva, recém-eleito Presidente do Brasil, esteve na Amazónia e falou de genocídio. "É mesmo assim", garante Rita Fonseca, "o mercúrio mata". E, ainda que Lula tenha dado ordem de travagem desta "caça ao ouro", incentivada durante os anos de Bolsonaro no poder, a geóloga alerta que podem passar décadas até que essa ordem dê frutos.
A missão ainda não tem data, mas não deverá avançar antes do final de abril, princípio de maio. Até porque, agora, vive-se a época das chuvas mais violentas na Amazónia.
Certo é que só vai ser possível concretizar o projeto com "apoio militar". Rita Fonseca lembra que, no território indígena dos Yanomami, ainda existem cerca de 20 mil garimpeiros ilegais, que "andam sempre armados" e "não têm problemas em disparar", se perceberem o que os investigadores andam a fazer.
Por isso, a investigadora da Universidade de Évora confessa que, "se não tivesse experiência daquele terreno, estaria um bocadinho em pânico". Mas não. Já não é a primeira vez que Rita Fonseca vai trabalhar para a Amazónia e isso teve peso na escolha feita pela ONU e pela União Europeia para esta missão.