"Água - Desafios do Futuro" é o seminário organizado pela Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos
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A conta é fácil de fazer. Há 13 anos que a precipitação no Algarve é inferior face à média dos anos anteriores.
"Temos 29% de redução média desde 2012 e a partir de 2019 as reduções são superiores a 45% face à média", deu conta à TSF o diretor regional da Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
No encontro "Água - Desafios do Futuro", organizado pela Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos (APRH), Pedro Coelho lembrou que o consumo anual da água das barragens no Algarve ronda os 110 hectómetros cúbicos e no final do ano passado já havia uma défice de 60 hectómetros cúbicos. Se as águas que caíram em abril melhoraram um pouco a situação, colocando as albufeiras com um nível aproximado de 44%, os recursos hídricos existentes nesta altura pouco mais darão do que para um ano de consumos.
No encontro que decorre na Universidade do Algarve, Pedro Valadas Monteiro, vice-presidente da Comissão de Coordenação da Região do Algarve (CCDRA), responsável pela área da agricultura, frisou que a última obra hidráulica feita na região, a barragem de Odelouca, foi realizada em 2008.
"Não andamos a antecipar [os problemas],mas a reagir".
Em seu entender, a agricultura não pode ser o bode expiatório dos males que afetam a região. Vai buscar números antigos para exemplicar, adiantando que em 2002 a área de regadio era maior do que a atual e o setor consumia o dobro de água.
"Mas pronto, [hoje] temos menos água", admite.
O vice presidente da CCDR considera também que, fazendo comparações à escala, o Algarve é "de longe" a região mais produtiva na agricultura. Salienta que o setor contribui para 9% do PIB agrícola numa área reduzida e assegura que a maior parte das explorações já utilizam rega localizada," do mais evoluído que há". A gestão da água, em seu entender, tem que começar a ser uma decisão tomada à escala regional.
"Tem que haver maior descentralização(...) porque os algarvios é que têm o cutelo sobre a cabeça", afirmou.
No seminário que decorre durante dois dias, Pedro Coelho, o dirigente regional da APA, deixou um alerta aos utilizadores: as soluções que poderão ser encontradas, como a construção da dessalinizadora ou a eventual retirada de água do rio Guadiana no Pomarão, obrigarão à utilização de energia, uma circunstância que irá agravar o preço da água.
"O utilizador terá que estar preparado para ter água mais cara, não há outra forma de dizer isto", admitiu.