Comissão Permanente da Seca reúne esta quarta-feira, em Faro, para decidir se mantem cortes anunciados em fevereiro
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Depois do incêndio que atingiu a zona do Nordeste algarvio no verão de 2021, vários agricultores juntaram-se numa cooperativa, a Guadimonte, e decidiram reflorestar a área com plantas autóctones e resistentes à seca: alfarrobeiras e medronheiros. Na zona de Alta Mora, concelho de Castro Marim, encontra-se uma área a perder de vista. São 50 hectares, 32 estão plantados. "Deste lado estão as alfarrobeirras, do outro os medronheiros", aponta Valter Matias. Ele é um dos agricultores que está à frente da cooperativa. Conta que quando fizeram a candidatura para recuperar aqueles solos áridos e degradados perceberam que, com a seca que o Algarve está a viver há vários anos consecutivos, ter água seria fundamental. "Por isso, no projeto colocámos a questão da rega e em boa hora o fizemos, o sistema veio aprovado, colocámos água e faz toda a diferença", sublinha.
Salienta que árvores de sequeiro, como as alfarrobeiras ou as amendoeiras, que em tempos sobreviviam apenas com a água da chuva, deixaram de o poder fazer. Sem água, nem que seja uma rega de dois dias por mês, as plantas morrem. Aponta para árvores que foram plantadas há cerca de um ano e já estão crescidas. Outras, que ficaram sem água, acabaram por morrer. "Este ano, ainda não tinhamos feito rega, estamos agora a começar, porque o mês de maio não trouxe chuvas", lamenta. "Temos que deitar água naquelas que foram plantadas no final do ano senão perdemos as árvores", adianta.
Neste caso, na zona mais árida e desertificada do Algarve, os agricultores não são abastecidos por nenhuma barragem. Vão buscar a água a um furo arteziano e optam por sistemas inteligentes e mais eficazes de rega. Permitem, por exemplo, controlar a rega através de um telemóvel e com aspersores junto à planta.
Nesta altura, os agricultores do Algarve que se abastecem em barragens têm cortes que chegam aos 25%, enquanto nos setores urbano e do turismo foram aplicados cortes de 15%. O setor agrícola tem contestado aquilo que consideram ser uma desigualdade no tratamento. Esta quarta-feira reúne a comissão interministerial da seca que junta os ministros do Ambiente e Agricultura, para decidir se as medidas aplicadas em fevereiro pelo anterior governo se mantêm iguais.