Secretas e PJ envolvidas na investigação aos ataques contra imigrantes no Porto
A Polícia Judiciária e o Serviço de Informações de Segurança investigam eventuais ligações a elementos radicais de extrema-direita.
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Além da PSP, também a Polícia Judiciária e o Serviço de Informações de Segurança estão envolvidos na investigação às agressões contra imigrantes que aconteceram na noite de sexta-feira na zona do Bonfim e do Campo 24 de Agosto, no Porto, avança o Jornal de Notícias. Em causa estarão eventuais ligações à ação de elementos radicais de extrema-direita.
Os ataques visaram, na sua maioria, imigrantes argelinos e já foram classificados pelas autoridades como crimes de ódio, cuja investigação passará para a Polícia Judiciária. O Serviço de Informações de Segurança também está a monitorizar a situação. Segundo o JN, estão a ser escrutinadas eventuais ligações entre os incidentes violentos ocorridos no Porto contra imigrantes verificados desde o dia 1 de maio e a presença na região de dirigentes do movimento de extrema-direita 1143, de Mário Machado, para promover várias iniciativas com militantes.
As agressões tiveram como resposta a condenação do Presidente da República, do Governo e de vários partidos. No sábado à noite, perto do local onde aconteceram os ataques realizou-se uma manifestação solidária que funcionou também como um alerta.
"Isto não são incidentes isolados e com os quais nós nos comovemos e não representam, como disse a ministra da Administração Interna, aquilo que a maior parte das pessoas portuguesas pensam e sentem, portanto, para levarmos isto a sério temos mesmo de começar a desconstruir esta ideia", avisa Joana Cabral, do SOS Racismo, em declarações à TSF.
Joana Cabral critica o Programa do Governo, onde a palavra racismo “não aparece mais do que duas vezes”. “É muito vago, e [o Governo] em nada se está a responsabilizar por combater esta situação”, considera.
A dirigente do SOS Racismo encontra uma ligação entre este tipo de agressões e um certo discurso político de ódio. "O clima político também nos preocupa, porque também ele tem contribuído para a naturalização destes discursos e, como é evidente, não podemos deixar de considerar que há uma associação entre aquilo que são os discursos públicos, até com intervenções de alguns protagonistas mediáticos do nosso espectro político, e aquilo que depois é este efeito numa propagação de imaginários xenófobos, racistas e de um discurso de ódio que depois faz com que as pessoas se sintam respaldadas e legitimadas", afirma.
Joana Cabral refere que não se pode relativizar este tipo de agressões que, para o SOS Racismo, têm uma motivação racista. "Só se formos muito ingénuos é que não associamos ataques organizados de pessoas que abordam na rua aleatoriamente apenas cidadãos com essas características e, portanto, não podemos achar que isso é um acaso. Quando se sai para a rua com um bastão de basebol, se sai do carro e se agride duas pessoas magrebinas ou argelinas e depois se entra numa habitação onde estão 10 pessoas também com esse perfil étnico-racial e depois num restaurante se agride pessoas novamente com este perfil étnico-racial, acho difícil podermos considerar que estes acontecimentos se devem apenas ao acaso", sublinha.
A ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, garantiu no sábado que "há uma tolerância zero ao racismo" e que o "infame ataque a imigrantes não é admissível e não representa o povo português".
"Este infame ataque feito esta noite relativamente a cidadãos migrantes não é admissível, comportamentos destes não são admissíveis", disse a governante, acrescentando que o ataque "não representa o povo português e os portugueses não apoiam este tipo de ataques".
Também o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condenou os "ataques racistas" e salientou que a violência racial e a xenofobia não têm lugar na sociedade portuguesa.
Numa nota publicada no site da Presidência, é referido que Marcelo Rebelo de Sousa condena os "ataques racistas" que ocorreram no Porto.
"Ao tomar conhecimento dos ataques racistas perpetrados durante a última noite no Porto, o Presidente da República sublinha a veemente condenação da violência racial e da xenofobia, práticas sem lugar na sociedade portuguesa", refere a nota.
Seis homens foram identificados e um foi detido, pela posse de arma ilegal, na sequência de agressões a imigrantes, no Porto, segundo o porta-voz da PSP, Sérgio Soares, que atualizou a informação dizendo que o juiz determinou a prisão preventiva do detido.
Na madrugada de sexta-feira no Porto, a PSP foi alertada cerca da 01h00 para uma agressão no Campo 24 de agosto, a dois imigrantes, por um grupo de quatro ou cinco homens que fugiu antes da chegada dos agentes da Polícia, referiu o porta-voz, indicando que os dois agredidos foram assistidos no Hospital São João.
Cerca de 10 minutos mais tarde, na Rua do Bonfim, 10 imigrantes foram atacados, na habitação onde estavam, por um grupo de 10 homens, munidos com paus e, a PSP ainda não conseguiu confirmar, por uma arma de fogo, referiu o porta-voz da PSP.
Ainda segundo o responsável da PSP, cerca das 03h00, na Rua Fernandes Tomás, outro imigrante foi também agredido, por outros suspeitos, sendo que um deles usava uma arma de fogo.
Nesta altura, com o contingente de polícias reforçado foi possível intercetar um dos suspeitos de agressão na Rua Santo Ildefonso, na posse de um bastão extensível, relatou.
Cerca das 05h00, foi intercetada a viatura usada no ataque da 01h00, com cinco suspeitos no interior e que foram todos identificados, acrescentou.
Dada a suspeita de existência de crime de ódio, o assunto transitou para a Polícia Judiciária, concluiu.
