Segunda vaga deixa crise recorde no setor têxtil, "caos" no retalho e restauração nos "paliativos"

Orlando Almeida/Global Imagens
Têxtil, calçado, retalho e restauração já estão a sofrer perdas com o novo confinamento e antecipam novas dificuldades nos próximos meses.
O presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP) diz que o setor enfrenta "a maior crise de sempre de toda a sua história" com a pandemia de Covid-19.
Em declarações no Fórum TSF, Mário Jorge Machado lembra que o setor que emprega cerca de 140 mil pessoas é "um setor exportador", com mais de cinco mil milhões de euros de vendas para fora.
Além disso, as empresas ligadas ao têxtil e vestuário estão a ser atingidas "por diferentes lados": Aos problemas no mercado de exportação junta-se o confinamento. E ao não sair de casa, as pessoas nem compram roupa nem têm tanta necessidade de investir em vestuário
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O representante da ATP considera que o que o Governo retirou demasiado cedo o lay-off simplificado que "salvou milhares de empregos" durante a primeira vaga da pandemia e apela a apoios extra para os meses difíceis que se vizinham, já que "o ministério da Economia tem demonstrado sempre abertura para ouvir as empresas".
"Esta segunda vaga já está a ter hoje um enorme impacto no cancelamento de encomendas nas unidades industriais em Portugal", lamenta Mário Jorge Machado.
Também o setor do calçado viu a produção praticamente paralisada no início da pandemia e as perspetivas para a segunda vaga não são animadoras.
Paulo Gonçalves, porta-voz da Associação Portuguesa de Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS), conta à TSF que os meses de março a junho "foram terríveis", com "70% do setor total ou parcialmente encerrado".
"A partir de junho sentimos algum ânimo, mas este clima de indefinição é-nos altamente penalizador", nota.
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O porta-voz da APICCAPS elogia o apoio do Governo durante a primeira vaga da e defende que agora o importante é incentivar o consumo e encontrar soluções para as empresas nos seguros de crédito.
Por sua vez, o setor da restauração está muito apreensivo com os efeitos do recolher obrigatório a partir das 13h00 durante os dois próximos fins de semana. E o take-away não resolve o problema, considera o representante da Associação Nacional de Restaurantes, Daniel Serra.
"O take-away funciona talvez em 5% dos operadores de restauração. Os restantes não vão trabalhar com take-away, nunca trabalharam, não tem clientes para o take-away", explica. "Portanto nós estamos nos paliativos e nenhum doente nos paliativos que saia com vida".
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Daniel Serra diz mesmo que "as coisas se estão a tornar completamente incomportáveis", já que apesar de não terem receitas, os restaurantes têm de pagar a TSU a partir do dia 20 de novembro, depois os salários de dezembro e os subsídios de Natal.
Igualmente, no retalho vivem-se momentos de desespero e as perspetivas não são animadoras.
Miguel Pina Martins, presidente da Associação de Marcas de Retalho e Restauração, fala em quebras recorde num mês habitualmente bom para o negócio.
"Há neste momento um caos, um desespero, uma dificuldade muito grande em conseguir ver o futuro e o que vai acontecer nos próximos tempos, porque realmente as vendas não estão a acontecer e as quedas estão em níveis recorde", lamenta.
"Novembro normalmente é um mês muito bom e neste momento é o pior mês do ano", consequência da falta de pessoas nas ruas, e, consequentemente nas lojas.
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O responsável defende que o apoio no pagamento de rendas deve ser expandido a lojas de rua, à semelhança do que já acontece nos centros comerciais onde há uma "partilha de sacrifícios".
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