Segurança dos jovens na internet: especialista defende "acompanhamento parental efetivo"
Em declarações à TSF, Tito de Morais alerta que faltam estudos sobre o comportamento online dos jovens, mas sublinha que é preciso ter atenção aos sinais e apostar na literacia digital dos pais.
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A propósito do jovem de 17 anos que está em prisão preventiva, indiciado por 11 crimes, entre eles homicídio, pornografia infantil e associação criminosa, o fundador da plataforma “Miúdos Seguros na Net” alerta que faltam estudos e literacia digital. Ouvido pela TSF, Tito de Morais sublinha que é escassa a investigação sobre este tipo de comportamento online dos jovens. Uma exceção foi o estudo revelado, esta semana, que revelou que a maioria dos jovens entre os 16 e os 19 anos no Reino Unido já tiveram comportamentos no domínio da cibercriminalidade.
"Tivemos uns workshops temáticos onde tivemos uma oradora do Reino Unido que veio trazer a investigação nesta área, ou seja, da cibercriminalidade juvenil, e apresentou alguns dados preocupantes. Cerca de 70% de jovens entre os 16 e os 19 anos já tiveram comportamentos de risco online. Esta é uma área onde há ainda muito pouca investigação, portanto não é algo que nos chegue de forma muito comum", refere.
Para este especialista em segurança digital nas faixas mais jovens, o caso do jovem de 17 anos suspeito de homicídio e incitamento ao ódio no Brasil não aconteceu de um dia para o outro. Tito de Morais avisa que é preciso ter atenção aos sinais e apostar na literacia digital dos pais, que desconhecem as plataformas onde os jovens chegam com várias motivações.
"As motivações são múltiplas, podem ser de cariz financeiro, podem ser no domínio da afirmação entre o grupo, de satisfação pessoal. Portanto, as motivações são diversas. Agora, há uma questão extremamente importante de referir: é que um jovem de 17 anos que tem este tipo de comportamentos não começou ontem, isto é algo que vem acontecendo de uma forma gradual e, muito provavelmente, esta situação poderia ter sido evitada se tivesse havido um acompanhamento parental efetivo", explica.
Pela experiência que tem nesta área, Tito de Morais nota o desconhecimento dos pais sobre plataformas, como o Discord, através da qual o rapaz agora detido exercia influência sobre outros jovens.
"A maior parte dos pais não conhece as plataformas que os filhos usam. Nós apresentamos logótipos de várias plataformas e quando chegamos ao Discord 100% dos pais desconhecem a existência do Discord e o Discord é uma plataforma extremamente popular entre os jovens. Está ligada ao gaming, os jovens podem fazer streams a jogar e podem ver streams também de outros a jogar. Como tem componente de conversa, pode ser utilizada pelos mais diversos fins", sublinha.
A investigação deste caso foi levada a cabo pela Unidade Nacional de Contraterrorismo da Polícia Judiciária (PJ), com o jovem português a ser considerado suspeito dos crimes de homicídio qualificado, ofensas à integridade física qualificada e discriminação e incitamento ao ódio e à violência, bem como a prática de crimes pornografia de menores.
Esta operação visou "conhecer e identificar a atividade desenvolvida 'online' pelo detido", tendo a PJ efetuado quinta-feira buscas domiciliárias e "apreendido um vasto acervo probatório, designadamente material informático e digital".
Segundo esta força policial, o jovem "criou e gere um grupo na plataforma Discord, onde se agruparam diferentes pessoas apologistas dos mesmos ideais e que pretendiam cometer atos semelhantes aos idealizados e propagados por aquele".
Entre estes atos estão: automutilação grave de jovens, mutilação e morte de animais, difusão de propaganda extremista nazi, instigação e prática da "missão" de cometer massacres em escolas (filmados e transmitidos através do telemóvel) e, ainda, partilha e venda de pornografia infantil.
Segundo a PJ, na sequência destes comportamentos "veio a decorrer o ataque com arma de fogo (um revólver calibre 38) numa escola de Sapopemba, no Brasil, resultando na morte de uma jovem" de 17 anos.
O autor material do crime na escola brasileira mostrou, no grupo no Discord, imagens da arma e do gorro que iria utilizar, bem como da escola onde o crime iria ocorrer