Segurança Social retira 'casos sociais' dos hospitais. Um plano para desocupar camas que agrada a todos
Há centenas de doentes em todo o país que se mantêm internados apesar de já terem tido alta por falta de resposta social. Com a pandemia de Covid-19, são camas que vão fazer falta.
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Está em marcha um plano para aliviar o Serviço Nacional de Saúde da subida do número de internamentos associada à pandemia de Covid-19 que passa por retirar dos hospitais pessoas que já tiveram alta clínica mas que continuam a ocupar camas, os chamados chamados "internamentos sociais".
Segundo avança esta sexta-feira o jornal Público, o Instituto de Segurança Social adotou "medidas extraordinárias" para retirar dos hospitais estes utentes, a maioria idosos sem retaguarda familiar, integrando-os em lares e estruturas da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados.
Em declarações à TSF, a vice-presidente do Instituto de Segurança Social, Catarina Marcelino, estima que 350 pessoas podem ser retiradas dos hospitais ao abrigo deste plano, que começou a ser aplicado no Porto, onde o problema é mais relevante.
"Nos últimos dias, no Porto, já retirámos cerca de 60 pessoas e estamos em vias tirar mais 40 nos próximos dias. Na região de Lisboa já retirámos cerca de 40 e também estamos a trabalhar para retirar mais pessoas."
A responsável garante que está a ser tido o cuidado de tentar manter as pessoas na sua região, não as afastando do seu meio social e familiar. "Estamos a falar sobretudo de pessoas com muitas carências, de pessoas excluídas, e julgo que mantê-las no seu meio é importante", considera.
Este é um processo é "dinâmico", ressalva Catarina Marcelino. O Instituto de Segurança Social aponta para a retirada de 350 pessoas dos hospitais, "mas amanhã este número pode ser mais ou menos", uma vez que há vários fatores que escapam ao controlo das instituições.
"Quando falamos de internamentos sociais não estamos só a falar de idosos (...) Por vezes estamos a falar de casos mais complexos, como casos de saúde mental, em que a resposta é mais difícil", lembra. Acresce, também, caso de pessoas que estão em condições de sair os hospitais para as unidades de cuidados continuados, entre outros.
A solução só peca pela demora, aplaude o presidente da União das Misericórdias Portuguesas, Manuel Lemos. O problema já se arrasta há vários anos, com uma única condicionante - a falta de dinheiro para o resolver.
"Os hospitais só devem ter pessoas doentes, pessoas que precisam de ser tratadas, não são para casos sociais", defende. "Temos tentado andar à roda de uma solução que até agora só não foi possível por uma razão óbvia, que é questão do financiamento."
A permanência nos hospitais sem necessidade até é perigosa, nesta fase, defende, já que "mais dia, menos dia" estas pessoas estão sujeitas a contrair Covid-19.
A União das Misericórdias ainda não recebeu ninguém nas suas instalações ao abrigo deste plano, mas Manuel Lemos acredita que vai começar a acontecer na próxima semana e já está feito o levantamento dos locais onde há vagas.
Também Eduardo Castela, da direção da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH) elogia o plano, em declarações à TSF.
Segundo o último o último barómetro da APAH, datado de 18 de fevereiro, há 1551 doentes internados como casos sociais, o que corresponde a 8.7% de internamento de camas a nível nacional. Desses, 79% são pessoas com mais de 65 anos.
"Esta inter-ajuda entre o ministério da Saúde e o ministério da Segurança Social será uma ajuda para os hospitais, que muitas vezes não têm a quem recorrer", destaca.
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