Seguranças tentam despejar voluntários de centro de apoio a carenciados em Arroios
Os voluntários não sabiam quem eram os proprietários do imóvel. Quando descobriram, enviaram e-mail a várias entidades, entre as quais a Câmara Municipal de Lisboa e a PSP, a informar de que iriam ocupar o espaço e os motivos.
Corpo do artigo
Uma dezena de seguranças privados entrou às 05h00 desta segunda-feira num centro de apoio a carenciados, em Arroios, Lisboa, para tentar despejar as pessoas que ali se encontravam, disse à Lusa um dos voluntários.
O Seara - Centro de Apoio Mútuo de Santa Bárbara, em Arroios, foi criado por um grupo de pessoas que ocupou um antigo infantário abandonado e o transformou num centro de apoio de ajuda a pessoas carenciadas, incluindo sem-abrigo.
Quando ocuparam o espaço, os voluntários não sabiam quem eram os proprietários do imóvel, mas mais tarde descobriram que foi vendido a uma empresa de imobiliário e depois em parcelas a três pessoas que vivem no estrangeiro.
Os voluntários enviaram e-mail a várias entidades, entre as quais a Câmara Municipal de Lisboa e a PSP, a informar de que iriam ocupar o espaço e os motivos.
Em declarações à TSF, Bernardo Alvarez, um dos voluntários, contou que às 05h30 um grupo de 10 seguranças privados entrou no espaço ""agressiva" e tentou expulsar as pessoas que se encontravam no interior. "Chegaram às 05h30, arrombaram as portas, ameaçaram com armas a retirada das pessoas no interior, e procederam à retirada de alguns dos bens e pessoas que estavam no interior."
De acordo com o voluntário, no local, às 09h00 estava também uma advogada com uma procuração em nome de alguns dos proprietários do espaço.
Contactada pela agência Lusa, fonte do Comando Metropolitano de Lisboa da PSP confirmou que a PSP foi chamado ao local pelos voluntários do espaço na sequência da entrada de seguranças no espaço.
"Houve alguns momentos tensos, mas não agressões. Cerca das 09h20 estavam no local alguns voluntários acompanhados de advogado e uma advogada dos proprietários do espaço", disse a fonte.
À TSF, Bernardo Alvarez já explicou que a PSP terá considerado ilegal o procedimento de retirada. "Chamou-se a Polícia de Segurança Pública, que estancou esse processo de despejo ilegal e violento. Aparentemente a polícia já comunicou que as pessoas que estavam no interior tinham todo o direito de lá estar, uma vez que este processo já tinha sido sinalizado e estava a ser encaminhado pela polícia e pelos tribunais."
TSF\audio\2020\06\noticias\08\bernardo_alvares_10h00
Em declarações à agência Lusa na semana passada, Inês Silva, uma das voluntárias do centro, contou que meia centena de "vizinhas e vizinhos" do bairro de Arroios que já se dedicavam a ajudar, na sequência dos efeitos da pandemia por Covid-19, juntaram-se e ocuparam um antigo infantário.
"Este grupo de pessoas que já participava em iniciativas solidárias percebeu que era preciso estender o apoio e então surgiu a ideia de criar um centro de dia que pudesse apoiar as necessidades das pessoas, que se agravaram com a quarentena", disse.
Inês Silva contou que o grupo ocupou o espaço, limpou-o e aproveitou mesas e cadeiras que estavam no interior.
"O edifício do antigo Centro Escolar Dr. Salgueiro de Almeida, no Largo de Santa Bárbara, em Arroios, estava abandonado desde 2018. Como estava abandonado há pouco tempo, o espaço, que é muito grande, estava em muito bom estado. Tem salas amplas, ginásio e balneários", explicou.
O centro abriu portas a 9 de maio. Está aberto todos os dias das 13h00 às 16h00 para que as pessoas em situação de sem-abrigo, pobreza ou precariedade possam ter acesso a vários serviços como fazer refeições, descansar ou lavar roupa.
A voluntária salientou que no espaço são cumpridas todas as regras de segurança e higiene impostas pela Direção-Geral da Saúde. São distribuídas luvas, álcool-gel e máscaras e é cumprido o distanciamento social.