António José Seguro está decidido a acelerar os calendários internos do PS. Depois de ter convocado, para a próxima terça-feira, uma reunião da comissão política nacional, segue-se já em Fevereiro, a Comissão Nacional - o órgão deliberativo máximo entre congressos.
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Uma fonte oficial do PS, próxima do secretário-geral, revelou à TSF que Maria de Belém convocou, a pedido de António José Seguro, uma reunião da comissão nacional. A reunião está marcada para 10 de Fevereiro, e deverá realiza-se em Coimbra. Este é o mais amplo dos palcos de decisão política do PS, e a reunião pode desembocar em diretas a curto prazo.
A intenção assumida pelas fontes oficiais contactadas pela TSF é apenas a de clarificar o ambiente no partido, e ninguém assume que a ideia é marcar diretas. Ainda assim, basta lembrar a passagem de Álvaro Beleza pela SIC Notícias na noite de quinta-feira para perceber que a estratégia de Seguro está já bem definida. Álvaro Beleza é secretário nacional do PS, o núcleo duro de decisão política da atual direção, e afirmou que «o líder do partido já decidiu», que haverá congresso ainda este ano, antes das autárquicas, e antes ainda do Verão. São palavras que revelam que Seguro, afinal, tem pressa, e está disposto a clarificar as águas o quanto antes.
Ora, fazendo as contas aos prazos definidos nos estatutos - as eleições directas devem anteceder em 60 dias a realização do congresso -, e tendo como ponto de partida a reunião da Comissão Nacional no dia 10 de Fevereiro, chega-se à conclusão de que, cumprindo os prazos mínimos, as directas podem ser marcadas para meados de Abril, e o congresso pode acontecer passado menos de um mês, já em maio.
Este passo em frente de António José Seguro revela um desejo de clarificação interna rápida e, sobretudo, confiança na lealdade da maioria das federações distritais. A ideia é vencer, reforçar a liderança, e pacificar a oposição interna deixando o partido dedicado em exclusivo às autárquicas de outubro.
O ambiente interno está pesado, tenso, e António José Seguro fez ontem saber que está furioso. Sim, foi essa a palavra escolhida, «furioso» com o que classifica como grupos organizados que, de norte a sul do país, tentam perturbar a acção da direcção, desfocando o partido do objectivo principal - fazer oposição ao governo. Aliás, Seguro e o núcleo mais próximo falam em falta de lealdade, e o líder socialista chegou mesmo a acusar alguns deputados de estarem a fazer fretes ao Governo com esta guerrilha interna.
Do outro lado da barricada, poucas certezas
António Costa é há muito a figura mais querida da oposição interna a Seguro, e nos últimos dias esse desejo foi sendo verbalizado, de forma mais ou menos assumida, por muitos socialistas. É de resto esse desejo, e um cada vez maior afastamento em relação à forma como Seguro tem feito oposição ao Governo, que fizeram com que muitas figuras, como Pedro Silva Pereira, Vieira da Silva, Pedro Nuno Santos ou João Galamba viessem a público defender a realização de directas e congresso o mais cedo possível.
A TSF sabe que, nas últimas semanas, o presidente da câmara de Lisboa teve encontros com nomes fortes do partido, avaliando sensibilidades e apoios para uma eventual candidatura a secretário-geral, mas aparentemente ainda não revelou a ninguém qualquer decisão.
Fontes próximas do autarca de Lisboa, contactadas pela TSF, garantem que não sabem para que lado cairá Costa - se para uma recandidatura a Lisboa, ou para uma candidatura alternativa à actual direcção de Seguro.
A acumulação dos dois cargos, à imagem de Jorge Sampaio, parece excluída, até porque em Julho de 2011, quando recusou candidatar-se a secretário-geral e fez avançar Francisco Assis, António Costa argumentou que não era possível acumular a presidência da câmara com a liderança do partido.
A escolha entre um desses dois caminhos estará por dias, e entre os apoiantes de Costa, há quem espere uma decisão já na terça-feira, na reunião da comissão política. Há também quem vá dizendo que depois de ter desencadeado o processo é impossível recuar, e que esta é a última hipótese de António Costa no Partido Socialista. Se hesitar e recuar, dizem alguns socialistas, pode ficar com lugar garantido numa prateleira da história do PS, lá no Largo do Rato. A prateleira dos que podiam ter sido.