Poderiam ser estas as palavras de um português médio, a avaliar pelos resultados do "Inquérito à População Portuguesa Sobre Defesa Nacional e Forças Armadas". Pouca informação, mas elevado reconhecimento da necessidade e importância dos militares.
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Os Portugueses sentem-se pouco informados sobre as Forças Armadas mas confiam e dão importância aos militares portugueses. Reconhecem o valor da tropa para as mais variadas missões, nomeadamente no apoio à população civil, mas salientam a falta de meios e equipamentos. Questionados num inquérito do Ministério da Defesa e Instituto da Defesa Nacional sobre que problemas mais podem vir a afetar a segurança de Portugal nos próximos tempos, a resposta não aponta para temas estritamente militares.
CONSULTE O RESUMO DESTE INQUÉRITO À POPULAÇÃO PORTUGUESA SOBRE DEFESA NACIONAL E FORÇAS ARMADAS
Na verdade, o temor de uma nova crise económica mundial, seguido de "epidemias e pandemias" são os temas que maior preocupação causam aos portugueses inquiridos pelo estudo. Na explicação dos resultados obtidos, a investigadora e diretora do IDN, Helena Carreiras, afirma que "essa é a grande preocupação, uma grave crise económica mundial. Para além da crise, as pandemias aparecem agora em segundo lugar, o que é natural. E curiosamente, a terceira fonte de preocupação dos portugueses, é a manipulação da informação e fake news. Eu diria que é até uma surpresa deste inquérito, porque no passado o receio de terrorismo ocupava esta posição".
A seguir à desinformação, vêm as alterações climáticas e os ataques informáticos: quase 70% dos inquiridos estimam que o mundo vai ser mais inseguro na próxima década.
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O grau em que os inquiridos se consideram informados sobre as Forças Armadas, utilizando uma escala de 10 pontos, em que 0 significa "Nada informado/a" e 10 "Muito informado/a", deu um resultado de 4,87 entre os homens e 2,76, entre as mulheres, sendo que, de um modo global, quase 31% dos inquiridos se consideram nada ou muito pouco informados sobre as Forças Armadas, dados que o estudo revela como apenas "ligeiramente mais positivos do que os encontrados em 2009".
A investigadora e doutorada em Sociologia e Políticas Públicas refere à TSF que não ter ficado "nada surpreendida porque essa era já um dado conhecido".
Em 2009, no âmbito de um projeto do CIES/ ISCTE, denominado "As Forças Armadas Portuguesas após a Guerra Fria", coordenado por Helena Carreiras, o estudo tinha por objetivo "compreender e avaliar a forma como as Forças Armadas se ajustaram estrutural e culturalmente às mudanças ocorridas no plano geopolítico internacional e analisar a sua relação com a sociedade".
Decorridos mais de doze anos, o presente estudo resulta de uma colaboração entre a Direção-Geral de Recursos da Defesa Nacional (DGRDN), o Instituto da Defesa Nacional (IDN), o Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL) e o Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa (IPRI-NOVA)".
E quando inquiridos sobre a necessidade de existência das Forças Armadas, 70% consideram-nas muito necessárias, "sendo residual a percentagem dos que as julgam desnecessárias e, portanto, passíveis de serem extintas". Helena Carreiras valoriza, na entrevista à TSF a propósito dos resultados deste inquérito, "uma apreciação muito positiva das Forças Armadas, uma confiança grande nas Forças Armadas; os inquiridos que mais conhecimento são também aqueles que tendem a ter atitudes mais positivas face às Forças Armadas".
Informação sim, qualificações não
As qualificações académicas não aparecem andar de braço dado com a valorização das forças armadas: "com o incremento da escolaridade diminui a percentagem dos que percecionam as Forças Armadas como muito necessárias e aumenta a dos que consideram que, apesar de não serem muito necessárias, devem existir".