Semana com quatro dias de trabalho? "É preciso conhecer primeiro para aplicar depois"
Livre quer estudar proposta antes da aplicação. A Confederação dos Agricultores de Portugal alerta para o risco de aumento dos impostos e a CGTP quer clarificar setores abrangidos, horários e salários que a medida implicará.
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Por proposta do Livre, o Governo vai debater e fazer um estudo sobre a possibilidade de, em Portugal, se passar a ter uma semana de quatro dias de trabalho. Está em aberto a possibilidade de se avançar com experiências em diferentes setores, mas a proposta é polémica e ainda nada está decidido.
Apesar de ter trazido a discussão para cima da mesa, o Livre defendeu, no Fórum TSF desta terça-feira, que é preciso "conhecer primeiro para aplicar depois".
"O Livre considera que faz parte do seu papel, como partido recém-regressado ao Parlamento e que quer trazer temas de futuro para o nosso país. Neste caso, acreditamos que é um debate muito importante, que está a acontecer em todo o mundo e no qual Portugal tem de estar atualizado. É preciso conhecer primeiro para aplicar depois, mas apesar de tudo temos alguns pontos de partida. A baixa produtividade é um grande problema do nosso país, apesar de ter aumentado bastante quando entrámos na União Europeia", explicou à TSF Rui Tavares.
Para o representante do partido, o problema da baixa produtividade não está nos trabalhadores e recorda o caso do Luxemburgo. Com cerca de 25% da força de trabalho portuguesa, o país consegue produzir cerca de "90 euros de riqueza" em apenas uma hora de trabalho.
"É um problema que está relacionado com défices de técnicas de gestão, maus investimentos de capital, tanto público como privado, que provavelmente não foram dirigidos para a maquinaria e injeção de conhecimento que nos permite a todos ser mais produtivos. E também está relacionado com uma cultura do trabalho que tem raízes muito profundas, como o facto de Portugal ter tido um grande atraso a nível de qualificações, uma ditadura muito longa e outros fatores históricos que fazem com que haja uma cultura de trabalho em que o estar no trabalho numa espécie de missa de corpo presente se torna mais importante do que aquilo que se produz no trabalho", afirmou o deputado.
José Eduardo Oliveira e Sousa, presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), deu a perspetiva do setor agrícola e alertou para o perigo de esta medida trazer um aumento de impostos.
"Trazer um período de trabalho reduzido a quatro dias por semana não é, seguramente, uma medida que possa contribuir para o progresso que o país precisa de abraçar. Também não é claro se a mensagem que o Governo deu será numa perspetiva de estudar se as oito horas que se perdem serão distribuídas pelos outros dias ou se é mesmo uma redução para quatro dias, mantendo o horário em oito horas por dia", avisou José Eduardo Oliveira e Sousa.
Na opinião do responsável da CAP é necessário ponderar todos os efeitos desta medida.
"Não excluo a hipótese de isto vir a acontecer no futuro se Portugal acompanhar o comboio do progresso e passar para as carruagens da frente para se equiparar a uma Dinamarca, Finlândia, Irlanda, Bélgica ou Alemanha. Nesses dias, talvez no tempo dos meus netos, talvez seja possível termos, como estes países têm, uma flexibilidade de trabalho em que possam encarar uma redução do período de trabalho. Portugal não tem, neste momento, condições para implementar uma redução do tempo de trabalho com prejuízos e custos", defende o presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal.
Por fim, Filipe Marques, da comissão executiva da CGTP, afirma que é preciso clarificar três aspetos fundamentais: que setores serão abrangidos, que horário se vai praticar e o que se pretende fazer em relação ao salário.
"É determinante falar em concreto sobre um tema que diz muito aos trabalhadores. Um número significativo de empresas terá condições de reduzir o horário de trabalho mas, em simultâneo, o estudo deve refletir também o patamar de avanço da ciência e da técnica que existe neste momento e permite produzir muito mais em menos tempo. Este também é um fator para medir a produtividade", acrescentou Filipe Marques.